sábado, 30 de janeiro de 2010

Alta Fidelidade: Vale Quanto Pesa


um texto apaixonado sobre shows musicais


Há alguns anos, anualmente, o Brasil vem recebendo diversos shows internacionais. O leque de opções é bastante variável, indo desde bandas menos desconhecidas, que executam suas performances em casas de show menores, a grande astros como Elton John e Madonna.

Se há um ponto em comum entre todos esses eventos, os altos preços são aquilo que os une. É sempre dedutível que uma atração internacional venha com preços estratosféricos no país, trazendo a tona uma das principais perguntas a respeito: valem a pena?

Talvez o primeiro ponto a refletir é a respeito do que a banda em questão significa a você. Uma hora ou outra, é possível que, ao menos, uma de suas bandas preferidas venha para o país, portanto, é necessário estar mais ou menos preparado para isso.

Os preços normalmente são salgados e, para quem não pode comprar direto na bilheteria em São Paulo, há taxas e taxas que, supostamente, são para favorecer o cliente. Não que eu veja vantagem em pagar mais quarenta reais pelo meu ingresso que já possui um preço caro. Porém é pagar ou não tê-lo.

Quem ainda mora longe da cidade e tem dificuldades em transitar por ela por não conhecê-la, acaba optando pelas excursões. Um preço barato em relação a passagens individuais e são convidativos para quem está no interior e encontra um grupo para acompanhá-lo. Assim, há um meio para ir e para voltar mais seguro do que vagar por uma ou outra cidade desconhecida.

Colocando esses dois pequenos critérios na ponta do lápis, é possível ter uma idéia se tal ou aquela banda merece ter o show assistido. Tal critério varia de acordo com cada um. Porém, em um amplo aspecto geral, sempre que surgir a dúvida se ir ou não no show de sua banda preferida, mesmo que com um preço um pouco salgado, não tenha dúvida, sempre vale quanto pesa.

Os preços altos sempre são justificados com os altos cachês exigidos pela banda. Mas compensam a sensação única de estar ao vivo com músicos que você aprecia. Valendo-se que eles não são do Brasil, o contato pode ser, de fato, a primeira e última vez. Mesmo que você os veja quase a distancia, em pequenos pontos no palco, a sensação de estar lá, ouvindo a música que produzem ao vivo, ao lado de um coro que te envolve, produzindo energia e levando até os músicos, provoca um sentimento impossível de ser explicado. Nessa hora, o preço já não conta mais.

Tais shows, sempre proporcionado a uma multidão de pessoas, são espetáculos únicos. Em lugares em que a banda toca raramente é possível sentir sua dedicação redobrada em dar toda sua energia. A boa produção que os envolve, incansáveis jogos de luz, um telão para quem ficou mais distante acompanhar, faz com que a cada canção você se sinta mais a vontade e esqueça as horas e horas de espera que ficou na fila e depois na pista esperando em bom lugar.

No fim da noite, o cansaço, o eco ensurdecedor nos ouvidos, que quase exigem um pouco mais de música, comprovam que a noite musical foi deveras incrível. Única. E que o preço por isso tudo pode ter sido alto monetariamente falando, mas que será um daqueles instantes que serão levados e lembrados por toda vida. Guardado no melhor lugar da memória.

Assim, não haverá dinheiro no mundo que pague e podemos confirmar que sim, alguns espetáculos valem o quanto pesam.



Alta Fidelidade, a coluna semanal do criador desse blog que hoje assistirá o show do Metallica em São Paulo e assistiu, ano passado, o show da banda Kiss. Aqui é possível falar abertamente sobre alguns temas sem que exija uma resenha para tal. Pretende-se abordar todo o tipo de assunto cultural, seja ele sobre livros, filmes, dvds, cds e, nessa semana, sobre a sensação de estar em um show ao vivo.

Semana que vem a coluna entra em recesso para a coluna Preliminar.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

[Resenha] House M.D., 6a temporada (06x12, Remorse)






Remorse (06x12)

Data de exibição: 25/01/10

O Que Dr. House Diria?


"Psicopatas sempre me fascinaram. Acho que é pelo entendimento cultural e forte valor familiar. Ou esses seriam os judeus?"

"Não disse que é lógico, só que é humano."

"Você me convenceu no " é mais fácil"."









ATENÇÃO: PARA MELHOR ANÁLISE DO EPISÓDIO, ALGUMAS PARTES DO ENREDO SERÃO CONTADAS DURANTE O TEXTO (OS CONHECIDOS SPOILERS). PORTANTO PARA SUA SEGURANÇA, SE NÃO QUISER SABER NADA A RESPEITO, PARE DE LER O TEXTO AGORA. MAS RETORNE APÓS TER ASSISTIDO O EPISÓDIO, POR FAVOR.


Concentrado mais no caso do que nas personagens – contrário do episódio anterior – Remorse foi um bom episódio das antigas. Onde confronto entre paciente e médicos, bem como os prováveis diagnósticos são a matéria de discordância e discussões entre equipes e responsáveis pelos conflitos e bons diálogos do conflito.

Sem dúvida, o caso de uma mulher que sofre de psicopatia é um chamariz interessante. Um argumento desse calibre sempre desperta atenção, não importa em que mídia e, nesta série, como foi apontado, gerou comparações entre a sistemática da paciente com a personalidade do próprio médico que a trata.

Por trata-se de um episódio de paciente, a história das personagens, que vimos crescer bastante neste ano, fica em segundo plano. Os conflitos centram-se em um sentimento mútuo e presente em todos eles: o remorso, título do episódio.

A multiplicidade do título dá vazão a diversos pedidos de desculpas e remorsos que surgem durante o episódio. Tanto da paciente, que curada, percebe que esteve com o marido apenas por seu dinheiro, como com House e um amigo antigo e o casal Foreman / Thirteen.

O remorso de House é apenas um processo terapêutico. Uma carta escrita a um amigo como pedido de desculpas, mas que, além de ser uma fuga de seus problemas mais intensos – e também de seus remorsos – como apontado por Wison, ressalta, dentre os diversos exemplos exibidos nesses anos de temporada, a afirmação da filosofia de Gregory House, de que todo mundo mente. Tentando sanar seu remorso, House se aproxima do amigo que lhe diz que não se formou pelo teste que o médico realizou com ele, para descobrir depois, logo quando adentra seu lado mais humano, que o antigo colega mentia só porque precisava do dinheiro e viu uma oportunidade de extorquir o médico que, desde a faculdade, era terrivelmente chato.

Enquanto Foreman desce um pouco de seu pedestal, talvez até devido ao reflexo da brincadeira do episódio anterior, e confessa a sua ex-namorada que todo o processo envolvendo sua demissão foi por amor próprio, amor a sua carreira, e não para protegê-la de um bem maior. A principio, a história se resolve.

Por fim, mesmo fugindo de seu sentimento por Cuddy, House tenta se aproximar dela mais uma vez, mas é barrado pela figura de Lucas, feliz, ao lado da diretora. Em silêncio, é possível perceber que há certos sentimentos e remorsos que são difíceis de serem curados.



[Resenha] House M.D., 6a temporada (06x11, The Down Low)





The Down Low (06x11)

Data de exibição: 11/01/10

O Que Dr. House Diria?


"Mas somos médicos o tempo todo. É tão chato."

"Na terra sem diversão, você tem um ótimo pedaço de terra."

"Idiota mentiroso soa mais natural para mim."










ATENÇÃO: PARA MELHOR ANÁLISE DO EPISÓDIO, ALGUMAS PARTES DO ENREDO SERÃO CONTADAS DURANTE O TEXTO (OS CONHECIDOS SPOILERS). PORTANTO PARA SUA SEGURANÇA, SE NÃO QUISER SABER NADA A RESPEITO, PARE DE LER O TEXTO AGORA. MAS RETORNE APÓS TER ASSISTIDO O EPISÓDIO, POR FAVOR.


Depois do costumeiro recesso de final de ano das séries americanas, que no caso de House, por um interessante movimento, não se importou em realizar um episódio de Natal, as reestréias estão começando durante as próximas semanas em todos os canais.

Quem acompanha a série semanalmente pode sofrer com a demora de um episódio a outro. Particularmente, não acho essa pausa favorável, e prefiro séries que vão do começo ao fim, como as meia temporadas do canal Showtime, ou a série 24 Horas que entra na programação em janeiro para evitar recessos.

Tais pausas perdem a dinamicidade da série, e há casos de que mais de um episódio é necessário para que ela volte aos eixos. The Down Low tem a missão de retomar a ambientação e a dinâmica da temporada, que cessou em ótimo momento em um episódio focado em Wilson.

O retorno à televisão é bastante satisfatório. Já é notório que nessa temporada o enfoque esteja mais nas personagens que integram o universo da série do que os casos apresentados a cada semana. Dessa maneira, há bastante desenvoltura em todas as cenas envolvendo a equipe bem como um Gregory House iluminado por sua ironias e sarcasmos – a cena imitando Jack Bauer é hilária - além de sua amizade com James Wilson, que desencadeia um dos melhores momentos.

O caso de um traficante de drogas que, inicialmente, tem problemas com barulhos agudos, se integra bem com a trama, e traz um equilíbrio ideal para o episódio, mesmo que fique explícito o enfoque nas personagens centrais.

A atitude é bastante positiva, ainda mais em um episódio que marca o retorno da série a televisão. Pois marca, com bastante precisão, toda as nuances das personagens centrais e deixa explícito ao público por quê a série é tão assistida e aclamada.

A equipe de diagnóstico desenvolve uma brincadeira entre si para tentar derrubar o egocentrismo de Foreman e, assim, percebemos o entrosamento da equipe definitiva. Tal ação não deixa a equipe estagnada como muito vinha ocorrendo.

Mas sem sombra de dúvida a seqüência mais interessante e divertida é o embuste criado por House para que Wilson não consiga conquistar sua nova vizinha. Transformando os melhores amigos em um casal gay, a série não só brinca com diversas teorias absurdas existentes sobre o relacionamento dos amigos, como dá margem para que ambos usem suas melhores armas para o duelo. House, em uma das melhores cenas, todo afeminado recebendo um quadro em sua casa e Wilson, dando o troco e declarando seu amor e pedindo-o em casamento, em um restaurante enquanto o médico jantava com a vizinha.

A ação confirma de maneira divertida a bela amizade da dupla e, com tom cômico, demonstra que não só House, como Wilson estão afiados em suas brincadeiras. Em palavras gerais, que nenhuma das personagens, como parecia acontecer nessa temporada, perdeu sua vitalidade e personalidade. E que, agora reconstruído o time de diagnósticos, é possível imaginar que a série vá fluir muito bem até seu final.

The Down Low retoma de excelente maneira a série, com um enredo bem construído sobre o caso, que fica em segundo plano mas funciona, e com grande destaque para as ações cotidiana das personagens centrais. Há quem, com certeza, irá reclamar da ausência do amor de House por Cuddy nesse episódio, mas sem dúvida foi um belo retorno.




quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Caprica, Episódio Piloto

O que nos diz o piloto da série que revisita o universo de Battlestar Galactica.

Foi com grandes espectativas que assisti o episódio piloto de Caprica, a nova série da Sci Fi que promete nos contar como a sociedade das 12 colônias começa a contruir seu fim, narrado em Battlestar Galactica. E mesmo com essas espectativas elevadas ao céu, não me decepcionei. Para minha surpresa, o piloto de Caprica tem ainda mais enfoque na análise psicológica. É denso, e o desamparo dos dois personagens principais é tão paupável que fica difícil concentrar-se em algumas cenas.

A história tem início com uma festa, que me convém descrever como um festejo de Baco em versão Sci Fi, a câmera acompanha a entrada de Zoe (Alessandra Torresani), de início se movendo as suas costas até um mezanino, quando ela olha para baixo, vemos que ela procura alguém idêntica a ela, até mesmo vestida da mesma forma. Para quem vem da esperiência dos Modelos Cylons e suas cópias, é impossível não acessar essa memória. Os modelos humanóides de Cylons só vieram na época da Grande Guerra, mas ainda assim com maestria, na primeira cena, você é informado de que Zoe é começo de tudo.

Zoe Greystone é uma adolescente rebelde, que se envolve com um culto a um "deus" único, e se torna militante dessa nova filosofia. o piloto de 1 hora e meia de duração não nos oferece grandes informações sobre o tal culto, apenas percebemos que ele está difundido entre os jovens de Caprica, e que tem seguidores ocultos.

Zoe é filha de um cientista, um pai complacente, que busca evitar conflitos. Eric Stoltz, em uma interpretação ímpar, parece não estar por inteiro em cena. Daniel Greystone é um engenheiro, e foi responsável pela criação das plataformas que permitem a realidade virtual à qual fomos apresentados logo no início do episódio.Atualmente trabalha para o ministério de defesa, e busca criar uma máquina de guerra com inteligência artificial, capaz de reagir ao meio externo sem qualquer espécie de comando. Há problemas com o projeto que ele não consegue solucionar, e não parece muito motivado a concluir o trabalho. Daniel aparenta ter uma vida tranquila com a esposa em um primeiro momento, não considera as rebeldias de sua filha um mal eterno, e é tão otimista e idealista, que é impossível não associa-lo a Lee Adama.

Porém, quem carrega o sobrenome Adama é Joseph, um advogado talentoso, que apesar da origem humilde que ele se esforça em esconder, é um homem de sucesso. Ao contrário de Greystone, Josefh Adama, ama seu trabalho, apesar deste o afastá-lo da família. Família esta, que também possui natureza contrastante em relação aos Greystone.

Enquanto vemos a família do Engenheiro em conflito com a filha adolescente, e evidenciando problemas de relacionamento através do comedimento de Daniel, e pelo descontrole emocional de sua esposa com a filha. . Entre os Adama, vemos uma esposa reclamando a presença do marido, mas de forma pouco inquisitiva, uma filha adolescente, que apesar de aparentar a mesma idade de Zoe, se perde em futilidades parecendo bem mais nova e um caçula chamado de Billy, que é uma criança quieta e observadora.

Após uma tragédia que os une, esses homens se aproximam, evidenciando ainda mais a racionalidade de Josefh e o idealismo de Daniel. Essa reflexão sobre diferentes formas de se encarar a perda, já vale o episódio inteiro. A partir do acontecimento que os une, a tragetória destes personagens irá mudar, e junto com estas, a história das doze colônias será escrita.

Tenho lido por aí que Caprica se apresentou uma série capaz de extrapolar a audiência de Battlestar Galactica. Concordo que a história é sim capaz de funcionar por si só, mas há um rico subtexto que só será entendido por quem assistiu a série que lhe deu origem. Como por exemplo, a modelo número oito (Boomer/Atena) é facilmente identificada como a modelo que melhor conservou as características de Zoe. Como já citado, Greystone me lembra o idealismo e a ingenuidade de Lee Adama, além de eu ver alguma semelhança física entre os atores. Confesso que ficarei decepcionada se não houver nenhuma conexão entre os dois.

O melhor personagem de Battlestar Galactica, Bill Adama ,terá a sua infância contada. Não é fácil enxergar o comandante da Galactica naquela criança quieta. Mas estou ansiosa para ver como eles desenvolverão a personalidade do "Old Man". Creio que o duplo virtual que dará origem ao primeiro Cylon não será o único a ser utizado, enfim aguardo o lançamento da série ansiosa. O piloto foi lançado em DVD e também pode ser encontrado na internet, inclusive com seus extras legendados em português. A estréia da série aconteceu no último dia 22 de janeiro nos Estados Unidos.



Mariana Guarilha, além de escrever neste espaço, mantém dois blogs: o Blog da Má Jornalista, com críticas sobre filmes e séries e As Notas do Prisioneiro com seus textos narrativos.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

[Download] House, Sexta Temporada, Remorse - 06x12

Estamos, exatamente, no meio da temporada, com o novo episódio dessa segunda-feira, Remorse.

A resenha do episódio anterior está atrasada, mas entrará na sexta feira junto com a do novo episódio.

Resta saber se, a partir de agora, teremos uma semana sim, uma não, da série ou se passado o mês de Janeiro ela engatilha até o final.

Sem mais delongas, eis os links, em torrent, sem legenda, rmvb legendado e a legenda a parte. Divirtam-se.

Remorse - 6x12
Exibido em 25/01/2010

[MegaUpload] - Legendado

[Torrent] - Sem Legenda

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

A Semana em Filmes (17 a 23 de Janeiro)

Sol Nascente (Rising Sun)

Dir. Philip Kaufman


Baseado na obra de Michael Crichton, está produção do início dos anos 90, ainda tinha forte influencia da narrativa da década anterior. É um filme policial bastante formal em sua narrativa, que se apóia somente na força da história e na carisma das personagens principais para dar o tom da trama.
Sua história envolve um assassinato em um poderoso conglomerado japonês em Los Angeles, em uma festa onde americanos e japoneses estão prestes a fechar um grande negócio. Para investigar o caso são chamados o agente Web Smith (um Wesley Snipes sincero, quando ainda possuía certo carisma) e John Connor (o sempre charmoso Sean Connery) que viveu durante muito tempo no Japão, sendo conhecido dos empresários responsáveis pelo conglomerado.
Por tratar-se de uma estrutura simples em sua narrativa, cria-se o tradicional embate entre um policial mais jovem e impetuoso e o mais velho e sábio. Fato observado pela personagem de Connery que, como aconteceria em diversos papeis de sua carreira, sempre é escalado como um homem digno e repleto de confiança.
Seguindo a risca uma narrativa sem nenhuma grande revelação, cabe a ação e a investigação do filme o trabalho de entreter. E, sob esse aspecto, a produção funciona. É um daqueles filmes de ação que valem refletir que mais vale algo antigo do que uma produção nova e rocambolesca, com cortes e furos.




A Liga Extraordinária (The League of Extraordinary Gentlemen)

Dir. Stephen Norrington



Algumas histórias possuem uma idéia tão genial e, assim, uma força bruta tão grande que é impossível estragá-la. Mesmo quando uma produção se esforça ao máximo para transformá-la em um projeto de ação descerebrado que seria o último filme de Sean Connery, que logo depois anunciaria sua aposentadoria.
Baseada na comic book de Alan Moore e Kevin O´Neill, o argumento que os produtores tinham nas mãos era espetacular. A história de uma liga formada pelos melhores personagens que a literatura já viu, como se os mesmos fossem reais. A tal liga seria reunida somente em momentos de crise.
É com esse curioso argumento que Moore uniu personagens das Minas do Rei Salomão, Vinte Mil Léguas Submarinas, O Médico e o Monstro, Drácula, entre outros. No filme, foram criados mais dois personagens que não aparecem no original. Tom Sawyer, agora da polícia americana e o eterno Dorian Gray.
Ainda que seja interessante ver tantos bons personagens compartilhando um mesmo plano de realidade, é triste o que os produtores e roteiristas fizeram com a adaptação. Transformaram a densa história de Moore em um filme bobo de ação, onde o grupo de mocinhos caça um bandido. A precariedade chega a ser tamanha que em uma cena é possível visualizar por duas vezes os ganchos dos efeitos especiais que passaram despercebidos pelos olhos atentos dos responsáveis pela pós produção.
Se há algo de positivo na trama é visualizar diversos personagens icônicos bem caracterizados (como fã de Dorian Gray, gostei de sua personificação) e a chance dos interessados em procurar o original da adaptação, lançado no país pela Editora Devir.
Infelizmente, A Liga Extraordinária foi a última produção de Sean Connery que saiu de cena espontaneamente e não deseja mais realizar filmes. Mas, ainda assim, em seu ato final, ainda que em uma produção ruim, seu carisma e charme continuam inabaláveis.




Armadilha (Entrapment)

Dir. Jon Amiel



Nada mais decepcionante do que reassistir um filme que suas lembranças reteram como um bom entretenimento e constatar que não há tantos méritos assim. Abordando o famoso bug do milênio que, sabemos, não deu em absolutamente nada, Armadilha coloca a bela Catherina Zeta Jones como uma agente de seguros que arquiteta um plano para pegar um dos melhores ladrões de objetos valiosos do mundo, Robert MacDougal, como sempre um Sean Connery repleto de charme.
A agente acaba se unindo com o ladrão para realizar um grande roubo e toda a esquemática de um filme de assaltos, que ficou famoso no começo dos anos 2000, é diluído ao extremo. MacDougal é o mestre que ensinará a sua aprendiz as melhores dicas, passando por cenas em que o erro exaustivo da garota deixará o ladrão irritado, até a fase em que o mesmo se surpreende com o rápido aprendizado da mesma.
Quando a ação entra em cena, os clichês tomam conta, em situações que ficam forçadas demais, principalmente quando o argumento central é realizar um assalto no bug do milênio, um alerta que não deu em nada mas que, na produção, tem a pretensão de causar algum espanto.
Se serve de consolo, para quem admira a beleza de Zeta-Jones, há uma leve cena de nudez dorsal e suas curvas em um collant. Mas, honestamente, nenhuma produção ganha pontos por isso.
Fora isso, o dvd é tão mal autorado que, além de erros grotescos de gramática, erra o próprio nome do filme, ao chama-lo de Cilada, ao invés de Armadilha como no cartaz. Tempos tristes onde a Fox começava a lançar seus dvds repleto de erros gritantes que, ao menos, diminuíram com o tempo.





Independence Day (Independence Day)

Dir. Roland Emmerich



Uma das grandes produções do cinema pipoca da década de 90, ainda se mantém um bom filme após diversas assistidas desde seu lançamento em VHS, passando por estréias na tevê a cabo e nos canais abertos.
Provavelmente o melhor encontro do diretor fanático por destruir o mundo, Roland Emmerich, e uma história que, como todas de sua direção, repleta de furos, mas que realmente entretém. Muito disso deve-se ao fato de que uma força exterior é a ameaça do planeta e sem muita explicação planeja acabar com nossa raça. Ao contrário de suas produções recentes que carregam a destruição total mas trazem todo um alerta de que devemos preservar o planeta e, como ficou evidente em 2012, discutir relações enquanto o mundo está se explodindo.
A ação é quase ininterrupta e se inicia logo na primeira cena. Se há espaço para desenvolver os laços afetivos das história, eles estão bem condicionados a ação do enredo, que sempre se desenvolve em duas personagens centrais, papeis de Will Smith, aqui no começo da carreira já mostrando competência e o eterno mosca Goldblum, um tanto quanto afastado dos holofotes nos últimos anos.
Há diversas cenas que se tornaram icônicas para o cinema. Delas, gosto de destacar a destruição da Casa Branca, o primeiro ataque marciano que começa destruindo o prédio em que fanáticos estão a espera dos pequenos homenzinhos verdes e a engraçada cena em que Will Smith, após derrubar uma nave alienígena dá um sopapo no alien e, na seqüência da cena, o chuta dizendo que, se não fosse pela invasão, estaria agora fazendo churrasco em casa.
Evidente que há diversas idéias inverossímeis na produção. Mas sua história bem estruturada na ação e os efeitos especiais compensam a bobagem escrita por Emmerich e Dean Devlin. Criando, sem dúvida, um clássico do cinema pipoca.




Astro Boy (Astro Boy)

Dir. David Bowers



Aqueles que desconhecem os quadrinhos japoneses, ou não tem apreço por essa leitura, precisam compreender rapidamente, antes da análise dessa animação, que o autor de Astro Boy, Osamu Tezuka, é considerado um dos pais do mangá – nome dado aos tais quadrinhos. Muito do que é realizado hoje no gênero, incluindo os famosos olhos grandes repletos de expressão, vieram de suas histórias, que são, por unanimidade, uma das melhores produzidas pelos japoneses.
O andróide Astro Boy é a criação mais famosa do autor, originando a primeira febre de animes no Japão. Assim, é evidente que o apelo
e a força de sua história e tamanha, e uma produção em animação
computadorizada da personagem poderia ser aguardada com bastante expectativa.
Infelizmente, toda a boa e complexa história criada por Tesuka, é diluída em excesso nessa produção dirigida por David Bowers, o mesmo de Por Água Abaixo.
Fazendo com que essa animação torne-se apenas mais uma dentre as diversas produções anuais do gênero. Uma história com um visual belíssimo e um roteiro linear que sempre pontua-se nos clichês de costume. Um leve ensejo dramático, cenas de apelo cômico para as crianças, personagens secundários inusitados que acabam trazendo carisma, um vilão malvado que receberá sua lição no final e toda uma maneira americanizada de ver uma história, bem diferente da maneira concebida por japoneses (Basta acompanhar um mangá ou um anime para notar a diferença gritante das culturas e, assim, das narrativas).
Dessa forma, a história do andróide resulta em uma produção bem pobre que ainda, como costume, conta com vozes famosas para rechear a produção.
Pena que o desenho original, assim como esse mangá de Tesuka, nunca chegaram ao Brasil. Mas aos curiosos sobre sua obra, há três obras de Tesuka no Brasil. Buda e Adolf pela editora Conrad e A Princesa e o Cavaleiro pela JBC. É uma boa dica para quem não conhece os quadrinhos japoneses.



Amor Sem Escalas (Up In The Air)

Dir. Jason Reitman


Nada me incomoda mais, após assistir um filme, do que a sensação do vazio que ele me deixa. Recenteme
nte fiz o mesmo comentário após ver Bonequinha de Luxo, onde, aos poucos, fui compreendendo a dimensão do filme.
Mais do que compreender uma produção de imediato, sentir seus efeitos e ir apreciando sua narrativa repleta de dubiedades aos poucos é uma sensação interessante.
Difícil é ser objetivo para dizer o por quê Amor Sem Escalas merecer ser visto. Dirigido por Jason Reitman, que tem em seu currículo duas produções - boas - de destaque, Obrigado por Fumar e Juno, e com o astro George Clooney, cada vez mais demonstrando competência em seus papéis, seu enredo é bastante simples, ainda que um tanto inusitado.
Clooney é Ryan Bingham, um profissional cuja função é viajar de cidade em cidade, empresa e empresa, para demitir pessoas. Esse é o resumo de sua vida. Um homem sistemático, acostumado a lidar com sentimentos de frustração, que acredita que o contato com outro humano nesse momento é importante para demonstrar apoio. Sua vida repleta de rotinas é quebrada quando uma nova contratada da empresa desenvolve um sistema de despedir pessoas por vídeo conferencia, sem a necessidade das viagens e do elemento humano.
Difícil não encarar tal enredo simples como uma história com significados ocultos. Bingham é o exemplo do homem contemporâneo. Carrega tudo que necessita em sua mala, não possui outro tipo de bagagem ou amarras, é bastante dinâmico e frio, e sua única relação humana está na interação em despedir pessoas. É um homem datado pelo tempo quando a tecnologia se aproxima e há a necessidade de se acostumar com ela.
De certa maneira, Clooney repete o estigma de seu personagem em Conduta de Risco. Em tal filme, Michael Clayton era conhecido como o homem que resolvia crises. Aquele capaz de salvar a todos, com bastante calculo, mas incapaz de controlar sua própria vida. Aqui, Bingham também é o homem responsável por um grande momento pessoal na vida de outros. Ajudando aqueles que foram demitidos a lidar com a notícia e buscar alternativas para conquistarem o que desejam. Porém, incapaz de lidar com a vida real, com a própria família. Sua vida é a imagem do executivo que passa a maior parte do ano entre aviões, vendo tudo de cima, sem de fato estar lá. Ambas personagens lacunares, dão margem para que Clooney, de maneira discreta, esboce tristeza e felicidade em seu papel.
A produção, sob certo aspecto, pode ser vista com frieza. Mas é inegável que tal adjetivo não seja proposital. Um reflexo bem realista da vida contemporânea das grandes cidades.
Aqui, nem vale mais dizer que admiro o trabalho que Reitman vem realizando como diretor e sou fã inegável de George Clooney. Deve ter ficado explícito.