terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Alta Fidelidade Especial: Polindo o Globo de Ouro


Domingo passado - No Brasil, na noite de Domingo para Segunda-Feira - ocorreu nos Estados Unidos uma das grandes premiações do cinema e da televisão americana, conhecida como uma prévia daquilo que se pode ver no Oscar, aquele prêmio que qualquer um, qualquer um mesmo, conhece como o maior prêmio do cinema.

Durante a exibição do Globo de Ouro 2010, diversos canais e sites fizeram sua programação. Alguns críticos comentaram a exibição no twitter, outros escreveram suas opiniões no jornal diário impresso no dia seguinte e críticos especializados, como é de costume, devem ter soltado bobagens entre o cavanhaque sempre bem aparado de Rubens Ewald Filho e a coleção de óculos horrendos de Jose Wilker.

Escrever mais um texto mapeando a premiação e apontando seus erros e acertos, seria, de certa forma, redundante. E somaria mais um para a compilação do Globo de Ouro de 2010.
Para quem não assiste de imediato as produções, ainda mais quando poucas estrearam no país, e tem o costume de ver séries somente quando elas fecham uma temporada, é, de fato, uma bobagem debruçar-se sobre a premiação como um todo.

Dessa maneira, meus comentários específicos sobre o Globo de Ouro de 2010 seguem nesse parágrafo. É com um grande sorriso que comemoro os dois prêmios para a série Dexter. O ator Michael C. Hall há muito tempo – desde Six Feet Under – merecia um prêmio por sua - sempre - competente performance e o recebeu no auge, em uma das melhores temporadas da série.

A parte dos comentários sobre as premiações, foco a atenção sobre outro aspecto, talvez mais abstrato, a respeito do critério de escolha e seleção dos vencedores. É lamentável que o -dito - termômetro para o Oscar tenha cometido uma série de pequenos absurdos em sua entrega de prêmios. Absurdos que, até então, estavam sendo dignos apenas dos últimos anos do Oscar.

Da mesma maneira que o famoso careca dourado, o Globo de Ouro, aparentemente, partiu de uma análise bastante subjetiva para a escolha dos seus vencedores no último domingo, em vez de seguir a linha mais óbvia: a qualidade acima de todas as coisas.

Em notícia publicada pelo site Omelete, o dvd da comédia Se Beber, Não Case é anunciado como uma das comédias mais vendidas no ano passado. Curioso observar, portanto, que tal produção recebeu o prêmio de melhor filme Comédia ou Musical. Porém, em minha opinião de crítico, a produção não era a melhor da lista e nem se quer o melhor dos três últimos filmes do diretor.

É um bom exemplo para aplicar o quesito da tendência. Pensa-se que tal produção por ter uma alta venda de dvds seja incrível e, logo, digna de uma premiação. Correto? Bobagem. Utilizar tal alicerce para premiar uma produção gera gritantes espaços desnivelados onde, aparentemente, não há prioridade em se eleger uma produção por seus aspectos qualitativos. Em um exemplo rápido, é o mesmo que premiar uma animação inferior as da Pixar por vender mais bonequinhos ou lancheiras escolares.

Tal tendência estranha também se estendeu sobre o maior prêmio da noite, o melhor filme dramático. Ainda que alguns possam reclamar quanto ao prêmio de melhor direção para James Cameron – inclue-se aqui os fãs de Tarantino – é inegável o apuro na direção de Avatar. Porém, apontar a mesma produção como a melhor, quando dois concorrentes conquistaram público e critica com maiores critérios, torna-se estranho. Em resumo, é de se estranhar que Avatar ganhe um prêmio de Bastardos Inglórios, uma produção mais rica, com um roteiro mais articulado, uma boa edição não-linear e com boas atuações (A comparação fixa-se nos Bastardos por que Amor Sem Escalas ainda não estreou no Brasil).

É perceptível que a premiação seguiu a tendencia do público, que vem lotando as salas de todo o mundo para assistir a intensa produção de Cameron. Não necessariamente colocaram olhos críticos sobre os indicados para selecionar o melhor no aspecto cinematográfico, usufruindo de toda técnica, estilo e afins que o cinema pode proporcionar.


Cabe ressaltar que não estou, de maneira alguma, rechaçando a boa produção de James Cameron. Mas sim estabelecendo uma crítica a respeito daqueles que elegem os melhores em uma premiação e de como tal aspecto, que já é subjetivo, pode se tornar ainda mais quando falta certa objetividade.

Se não, da maneira que a premiação caminha, em breve a votação será aberta para o público. E não mais para esse time seleto que, supostamente, tem mais senso crítico em votar do que o subestimado público.

Avatar, a gigantesca produção de James Cameron é um bom filme. Se não o melhor do ano passado, o maior. Mas é inegável que, muito além de um visual impecável, o filme possui certos defeitos. Premiá-lo apenas por um critério, é, na minha visão, ficar cego de toda amplitude da produção.

Façamos essa suposição: vislumbrem todo o aspecto visual criado por Cameron na mão de um cineasta como Peter Jackson, que trouxe as telas o conceito de O Senhor dos Anéis sem perder a magia e a força do enredo. Imaginem se ambos trabalhassem lado a lado, Cameron apaixonado por seus efeitos revolucionários e Jackson dando um apuro melhor no roteiro e amarrando-o melhor.

Reflitam sobre essa idéia e tentem compreender aquilo que chamo de um bom critério de avaliação. Um critério que, mesmo que subjetivamente, é capaz de ir além da paixão cinematográfica e analisar camada por camada de uma produção para, por fim, angaria-la com o premio máximo da noite.

Alta Fidelidade, a coluna semanal do criador desse blog onde é possível falar abertamente sobre alguns temas sem que exija uma resenha para tal. Aqui pretende-se abordar todo o tipo de assunto cultural, seja ele sobre livros, filmes, dvds, cds e mais. Fiquem ligados, todos os sábados uma nova coluna, exceto no primeiro sábado em que esse espaço é cedido para a coluna Preliminar que analisa filmes esperados pelo público.


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