segunda-feira, 3 de maio de 2010

Alice No País das Maravilhas (2010)

(Alice in Wonderland, 2010)
Diretor: Tim Burton
Elenco: Mia Wasikowska, Johnny Depp, Michael Sheen, Anne Hathaway, Helena Bonham Carter, Matt Lucas, Alan Rickman, Christopher Lee, Crispin Glover, Stephen Fry

Inevitavelmente, em diversas críticas sobre Alice No País das Maravilhas, tem se comentado a respeito de um vídeo humorístico do site Comedy Central que satiriza com precisão a maneira que Tim Burton parece produzir um filme: uma visão nova de um conceito existente, com Johnny Depp e Helena Bonham Carter no elenco com músicas de Danny Elfman para evocar o estilo gótico. É notável o fiel retrato daquilo que se tornou o diretor: um pálido talento caricatural de si mesmo.

Ainda que alguns permaneçam em sua defesa, alegando que o cineasta realiza tanto obras autorais como filmes comercial, é revoltante que tais obram tenham certo vigor visual sem nenhum apelo sensível. Há muito pouco de Alice do autor Lewis Caroll nessa adaptação produzida pela Disney e voltada para o apelo infantil. O título remete-se a primeira obra que envolve a personagem.

A história original, da garota de nove anos que cai em um buraco ao seguir um coelho foi modificada diversos anos. Provavelmente para fugir da lembrança de que o escritor compôs tais livros para um pequena garotinha, da mesma idade, por quem fora apaixonado já quando adulto.

A trama abre espaço para a era vitoriana e uma Alice adolescente, prestes a se casar. Em fuga, repete quase a mesma viagem realizada na infância. Uma triste liberdade poética. Ao fazer a leitura do livro de Caroll, nota-se que a garota Alice não parece ter a idade mencionada pelo autor. Mesmo criança, sua fala é adulta. Adaptar Alice No País das Maravilhas sem mudanças seria funcional, mesmo que a atriz principal Mia Wasikowska parecesse mais velha. A arte permite a suspensão de descrença.

Há sinais de desconfiança quando o grande chamariz da trama não é a personagem central, e sim Johnny Depp em mais uma caracterização bizarra como o Chapeleiro Maluco. Não só sua interpretação, bem como o figurino é equivocado. Depp relembra as vestes do Willie Wonka de Gene Wilder, faz caras de seu Edward, Mãos de Tesoura, mantém a afetação do Capitão Jack Sparrow, e olhos aumentados por computador para maior expressividade e cabelos alaranjados artificiais. Parece mais um travestido do que um maluco.

É nesse ponto que a produção exagera. Entregando um visual que explode em efeitos especiais para esconder um roteiro vazio. A rainha Vermelha interpreta por Bonham Carter bem que tenta tirar risos da plateia com sua raiva a flor da pele. Mas a ideia de deixa-la cabeçuda quebra qualquer intenção ameaçadora, fazendo-a parecer de plástico. Sua irmã, a Rainha Branca, vivida por Anne Hathaway, de tão pacífica não gera nem simpatia.

As personagem criadas por computador tem certo charme, como o lagarto dublado por Alan Rickman e o Gato que Sorri na voz de Stephen Fry. Mas nenhum deles são tão carismáticos, ou genuinamente malucos, quanto as mesmas personagens na versão animada da Disney.

Plástico, sem fluidez narrativa e carisma, a produção só não se tornou um desastre de bilheteria pelo apelo infantil e daqueles curiosos em ver uma produção muito esperada. O efeito em terceira dimensão nada acrescenta a história e nem mesmo tem texturas bem trabalhadas.

É lamentável que um diretor bem característico como Burton tenha se tornado uma piada industrial. Mas, para os executivos, a bilheteria gorda do filme é sinal de sucesso, o que significa futuras adaptações com Depp, Bonham Carter e a música eufórica de Danny Elfman.


Nenhum comentário:

Postar um comentário