quarta-feira, 30 de junho de 2010

Arquivo X, Resista Ao Futuro

ATENÇÃO: PARA MELHOR ANÁLISE DA TEMPORADA, ALGUMAS PARTES DO ENREDO SERÃO CONTADAS DURANTE O TEXTO (OS CONHECIDOS SPOILERS). PORTANTO PARA SUA SEGURANÇA, SE NÃO QUISER SABER NADA A RESPEITO, PARE DE LER O TEXTO AGORA. MAS RETORNE APÓS TER ASSISTIDO A TEMPORADA, POR FAVOR.

Arquivo X chega aos cinemas sem fôlego

Longa metragem que serve como entre ato da quinta e a sexta temporada, Arquivo X – Resista ao Futuro foi lançado no ápice de sucesso da série. Era evidente que, mais cedo ou mais tarde, a produção alcançaria a tela grande.

Novos personagens são introduzidos para dar mais requinte a trama, dando a intenção de produção cinematográfica. Infelizmente, tais personagens nada acrescentam a narrativa, se tornam apenas coadjuvantes que aparecem e somem rapidamente.

E é essa proporção geral, de uma história que poderia não ter acontecido, que permanece toda a intenção do longa. Buscando conquistar uma nova parcela de espectadores que não compreenderiam a história por fazer parte da mitologia da série, e nem agradaria os fãs antigos por algumas mudanças. Gerando uma recepção morna na época de seu lançamento.

Cenas de ação – como todo o movimento inicial – são inseridas de maneira desnecessária, em vez de fazer bom uso da narrativa simples da série. O único elemento que ainda se mantém fresco é a química entre os agentes Fox e Dana, sua desilusão e fé na busca incessante que fizeram até aqui.

Além da morte de um personagem sempre presente na mitologia da série, com a intenção de não passar o longa metragem em branco, os roteiristas introduzem um novo elemento na mitologia da série. Mudando-a bruscamente. Dando um passo na evolução do óleo negro e da colonização alienígena. Criando uma espécie de gestação alienígena, originada a partir de picadas de abelhas híbridas, que fariam com que humanos produzissem em seu interior um alien, pronto para sair de sua barriga como na famosa saga de ficção científica.

Tal elemento conecta-se diretamente com a sexta temporada e acaba sendo, ironicamente, o último ato grandioso da conspiração alienígena. Sem mencionar que o filme adianta o retorno evidente dos Arquivos X, que foram incinerados em cena magistral e triste no final da última temporada.

Sem dúvida a primeira incursão de Mulder e Scully nas telonas, fica aquém da expectativa, gerando um produto que poderia ser muito melhor se fosse mais trabalhado e não resultado de uma evidente jogada de executivos.



quarta-feira, 23 de junho de 2010

Damages, Primeira Temporada

Ao contrário de cega, a justiça é suja e corrupta.


Muito mais assustador do que personagens que cedem ao maniqueísmo do bem ou do mal, estão aquelas que, pela aparência, podem parecer angelicais, mas pela violência das atitudes se tornam amedrontadoras.

É essa a persona de Patty Hewes, interpretada de maneira magistral por Gleen Close e personagem central desse drama jurídico. Suas roupas sempre bem alinhadas, seu rosto que raramente explode, contido e polido em palavras afiadas causam mais medo do que exemplos de pânico explícito, como um terrorista com bombas no corpo, para ficarmos em apenas uma idéia.

Hewes é o tipo de personagem sem escrúpulos, que corrompe a linha da frase política de Maquiavel, que o fim justificam os meios, levando ao extremo a maneira de se fazer justiça. Não importa quais artifícios sejam utilizados desde que chegue ao bem maior.

A trama da primeira temporada é centrada em um gigantesco caso da advogada contra um bilionário que, da noite para o dia, decretou falência, deixando milhões de empregados sem nada. Especulações afirmam que Arthur Frobisher, o homem por trás da empresa, sabia da falência, motivo no qual vendeu suas ações antes do anuncio oficial.

Em paralelo a isso, está a contratação de Ellen Parson, a nova associada da empresa de Patty e sua pupila. É com ela que a garota aprende que a busca pela verdade possui meandro muito mais sujos e corruptos do que ela imaginava.

O jogo existente em Damages é dúbio. A narrativa entrecortada mostrando dois pontos significativo dos acontecimentos é feita com cuidado. Assim, no primeiro episódio abre-se um espaço de seis meses entre o início e o fim da história e, a cada episódio, uma ponta do enredo se aproxima da outra. Unindo-se e aproximando o tempo, revelando o que há de oculto nas entrelinhas e que, tratando-se de justiça, ninguém é apenas um advogado bem intencionado.

Damages é mais uma das séries que possuem uma figura forte em seu papel central, uma atriz de peso que sem muito foco no cinema atual, centrou-se suas forças na televisão e demonstra que, mesmo fora da tela grande, continua em forma como nunca.

Em 2008 a série foi indicada ao Globo de Ouro nas categorias de melhor série dramática da televisão, melhor atriz de série dramática (Glenn Close), melhor atriz coadjuvante de série, minissérie e filmes para TV (Rose Byrne) e melhor ator coadjuvante de série, minissérie e filmes para TV (Ted Danson). Atualmente está em sua terceira temporada e seus atores possuem contrato para mais três anos da série.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

A Semana em Filmes (13 a 19 de Junho)

Toy Story 3 (Toy Story 3)

Dir. Lee Unkrich



O estúdio Pixar, além da tradicional enumeração de elogios quanto a suas produções, mantém uma feliz tradição cinematográfica oriunda de tempos antigos do cinema: a exibição de um curta metragem que antecede a atração principal.
Dando vazão a imagem e a música para o brilhantismo da história, seus curtas são belas historietas simbólicas ou bons exercícios de humor que abrem o campo para a grande produção que virá a seguir.

Escolhido para acompanhar Toy Story 3, o singelo Dia e Noite comtempla tanto a animação clássica 2D como a computadorizada, apresentando duas personagens que representam o dia e a noite e tem um embate onde um tenta convencer o outro de que sua fase do dia é mais interessante.
Após o curta, eis a hora de uma das produções mais esperadas do estúdio entrar em cena. Dirigida por um estreante, que até então fora co-diretor/editor das produções passadas, Lee Unkrich tinha a ingrata missão de produzir um filme a altura das história anteriores, que atingiu seu primor em Toy Story 2.
O enredo da nova produção é bastante envolvente. Acerta com perfeição ao avançar a linha narrativa, envelhecendo o garoto Andy ao ponto dele estar se preparando para ir a faculdade e, portanto, sendo obrigado a decidir o que fazer com seus amados brinquedos de infância, entre o sótão da casa ou o lixo.
Em meio ao desespero gerado pelos brinquedos, cuja pior tristeza é o abandono, eles decidem por conta própria se infiltrar em uma caixa de doações a uma creche, mas logo percebem que a escolha foi mal acertada. Cabendo a, novamente, o cowboy Woody – o único a votar contra a investida a creche - salvar a pátria.
Basta um olhar sobre as últimas produções do estúdio para concluir que há tempos o enfoque de suas produções não miram os pequenos, deixando que outros estúdios de desenvolvimento menor, façam as mesmas produções animadas repletas de riso fácil e de rasa história.
O drama das personagens, ainda que trajados por um humor sempre pontual, possuem toques sutis de elemento humano. Necessitando muito mais da identificação e comoção adulta, do que da simpatia infantil. Até mesmo em certos momentos cômicos.
O enredo mais elaborado do que outras animações intenta quebrar o paradigma de que um desenho é superficial e, a cada lançamento, o estúdio afina seu estilo narrativo.
A mesma primazia dos primeiros minutos de Up – Altas Aventuras é vista ao narrar o crescimento de Andy, e seu amor em brincar, simulando filmagens caseiras. Dando a temporalidade e o contexto adequado ao espectador.
Sem dúvida, a produção, além de ser mais um tiro certeiro da Pixar e, provavelmente, um dos melhores filmes do ano, nada deve as outras. É rica em sensibilidade ao mostrar uma das primeiras transições de toda criança. O esquecimento voluntário de seu mundo infantil perante ao crescimento inevitável.
Uma metáfora pungente que afirma e encerra uma memória viva em todos nós. A infância que sempre perece, ao contrário dos brinquedos eternos. Ao infinito e além.

domingo, 20 de junho de 2010

Sucesso Para Um Preguiçoso, Marc Allen

"Sou preguiçoso. Admito isso. Durante anos, essa foi uma das coisas que me impediu de ser bem-sucedido na vida - afinal de contas, para ter êxito você tem que trabalhar muito, não é mesmo? Isso foi certamente o que me disseram e eu certamente acreditei.
Nós a chamamos de ética do trabalho: é bom trabalhar, não é mesmo? Faz bem para a alma. Molda o carater de uma pessoa. E trabalho duro traz sucesso."

Autor: Marc Allen
Editora: Vida e Consciência
143 pag.






A biblioteca de auto ajuda das livrarias cresce a cada mês. Publicações direcionadas para aqueles que, em vez de buscar encontrar as respostas por si só em outros livros, acreditam que é mais fácil se pautar em formulas para ter uma vida melhor.

Assim, um grande leque de possibilidades pode ser encontrado. Desde aqueles cujos títulos até os não leitores do gênero conhecem, como títulos específico como ter sucesso para quem não tem trabalho, como ter sucesso ao mascar chiclete e, nesse caso, a busca do sucesso mesmo sendo um preguiçoso.

É assim que Marc Allen expõe os problemas de sua vida, sempre de maneira rasa, explicando o quanto nunca quis trabalhar e, mesmo assim, encontrou uma formula para se tornar um homem bem sucedido.

A intenção do livro é ser algo tão resumido que o próprio autor orienta aos preguiçosos leitores a nem lerem o livro todo, e irem acompanhando apenas as palavras chaves que se encontrar em um quadrado cinza, contendo as frases clichês do gênero: é necessário mudar aos poucos a maneira que você se importa com o trabalho para os valores mudarem, trabalhar menos é ser mais produtivo, e uma série de dicas que resumem um estilo de vida criado por Marc, que afirma que tudo deve e pode ser feito de maneira relaxada e calma, sem stress.

Seguindo o esquema padrão de livros do gênero, sem nenhuma profundidade que possa ser, de fato, aproveitada, o livro recicla os clichês do gênero mudando levemente o ponto de vista. Aqui Allen se diz uma pessoa do tipo-Z, a expressão vem de alguém sempre sonolento, que tenta combater as pessoas tipo-A, as viciadas em trabalho.

Ainda que a capa da edição, e até mesmo seu título demonstre que a obra poderia ser mais profunda, sem a bobagem de se basear em formulas quase matemática, o texto segue o estilo da auto-ajuda. Obriga o leitor a se encaixar em um padrão para acreditar que só assim é que pode atingir o sucesso. Livros que mais reprimem a criatividade do que, na verdade, a aguçam. Uma bobagem que infelizmente já foi editada duas vezes em nosso país.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Arquivo X, Quinta Temporada


ATENÇÃO: PARA MELHOR ANÁLISE DA TEMPORADA, ALGUMAS PARTES DO ENREDO SERÃO CONTADAS DURANTE O TEXTO (OS CONHECIDOS SPOILERS). PORTANTO PARA SUA SEGURANÇA, SE NÃO QUISER SABER NADA A RESPEITO, PARE DE LER O TEXTO AGORA. MAS RETORNE APÓS TER ASSISTIDO A TEMPORADA, POR FAVOR.

Quando nem a maior das mentiras é suficiente


Temporada marcada por diversos movimentos diferentes da anteriores. A começar pelo número reduzido de episódio, totalizando vinte produzidos. Foi a partir desse ano que houve a troca da câmera até então padrão, que filmava em full screen, por aquela que se tornaria mais popular hoje, em formato widescreen.

Ainda que se diga que nessa temporada houve um declive na temática da série, ao assisti-la novamente é afirmativo que tal comentário é errado. É necessário dizer que a série não é mais como era em seus primeiros momentos, uma perseguição contra alienígenas. Deixando o leque de histórias não resolvidas cada vez mais amplo. Redendo-se a bom exercícios visuais com reinvenções históricas (Prometeu Pós-Moderno), como recontando momentos primórdios de nossos agentes (Suspeitos Incomuns), convidando escritores famosos para o roteiro (Stephen King em Feitiço), ou ainda fazendo uso da narrativa como elemento cômico (Vampiros). Infelizmente, essa temporada ainda deflagra dois episódios péssimos, cujos enredos exageram no quesito inexplicável, entregando uma trama que fica bem aquém da esperada, lembrando alguns episódios da primeira temporada, onde a série ainda se testava.

Bom equilíbrio é encontrado nos vinte episódios da séries que conseguem criar três momentos mitológicos da série e, entre eles, costurar diversos episódios interessantes. Ao contrário das temporadas iniciais, cujo desfecho mitológico ocorria somente no fim, tanto a quarta como a quinta temporada da série, optaram por diluir a trama mitológica em diversos episódios duplos. Um aspecto curioso que denota boa intenção cronológica. Mostrando os agentes trombando com aspectos da conspiração mas seguindo na perseguição de outros casos.

Pela primeira vez, após quatro anos, a quinta temporada é a primeira que vemos os reflexos de tudo que foi perseguido durante todo esse tempo, de maneira explícita. Nunca a mitologia, a história da conspiração, esteve tão densa e delicada, sendo aplicada na prática tudo o que foi falado anteriormente.

É dessa maneira que Scully descobre ter uma filha, Emily (Surpresas no Natal, Parte Um e Emily, Parte Dois), um híbrido humano e alienígena, possivelmente um experimento do governo que aproveitou de seus óvulos na sua abdução para a criação dessa criança, causando imensa comoção na agente.

A busca desesperada pela verdade faz não só Dana, como Fox Mulder, cair em mentiras. Até mesmo quando uma das personagens chave de todo envolvimento governamental entre humanos e alienígenas, A Paciente X (A Paciente X, parte um e dois) se apresenta a eles. Mulder acredita que ela é mais um passo para despista-lo da verdade que persegue, enquanto Scully se envolve na busca de Cassandra.

Uma leve inversão de sentimentos é apresentada nesse ano. Com Mulder cansado de perseguir mentiras e Scully dividida entre aquilo que viu, o que presenciou em sua abdução e sua fé cristã, vinda de família.

A evidente prova de que as investigações dos agentes chegaram a fundo na verdade, tendo diversos elementos para expor a conspiração, se revela no último episódio dessa temporada, O Final, na comovente cena em que a sala de Fox Mulder, onde também reside os Arquivo-X é queimada pelo Canceroso. Destruindo uma vida de pesquisas a procura de silenciar quem as fez.

Mesmo que ainda mais curta, com trama aberta a novos casos - o que poderia diminuir a qualidade da série - a quinta temporada é, ainda assim, responsável por um saldo positivo. Mantendo as tramas investigativas e levando a fundo o conceito da conspiração.

domingo, 13 de junho de 2010

O Aliciador, Donato Carrisi

"A grande mariposa o transportava, movendo-se de memória pela noite. Vibrava as asas poeirentas, fugindo da vigilância das montanhas, quietas, ombro a ombro como gigantes adormecidos.
Acima deles, um céu de veludo. Abaixo, o bosque. Denso.
O piloto virou-se para o passageiro e indicou um enorme buraco branco no chão diante deles, parecido com a garganta luminosa de um vulcão."

Autor: Donato Carrisi
Editora: Record
448 pag.

Tradução de Eliana Aguiar





A Itália tem nos dado bons escritores policiais. Basta observar duas das mais prolíficas coleções do gênero no Brasil, a Coleção Negra da Record e a coleção com bordas coloridas da Companhia das Letras, para constatar diversos autores italianos, alguns com livros merecedores de prêmios. Desta seleção, Andrea Camilleri é, provavelmente, um dos maiores da contemporaneidade com uma sólida obra.

Nascido em Martina Franca, Donato Carrisi se apresentou como mais um bom escritor do gênero no incrível O Aliciador, seu romance de estréia.

As bases que sustentam a trama foram escolhidas com precisão, e nos apresentam seis braços de meninas desenterrados em um bosque logo na primeira cena. Fazendo uso equilibrado do chocante crime envolvendo crianças, imagens que sempre chocam e cativam Sendo o público em uma história do gênero, forçando-o a ler mais e mais.

As personagens são construídas em dois núcleos: A equipe que investiga a ação, centralizada por Goran Gavilla, um civil com habilidades tão afiadas para investigação que se torna consultor da polícia nos casos difíceis; e Mila, uma policial perita em traçar perfis de seqüestradores que recém salvou uma garota mantida em cativeiro por um molestador. Evidente que os dois núcleos se fundem em um, fazendo de Mila a novata do grupo de Gavilla.

As personagens do time de investigação são bem compostas, dando a completude de uma equipe de verdade. Especialistas de diversas áreas que apóiam a investigação do outro e personalidades fortes em combate.

As bases criminais e forenses são transpassadas de uma maneira verídica para a narrativa. Cenas brutais de assassinatos não são poupadas a quem lê. É a procura pelo choque no leitor que causa a ansiedade por conhecer mais sobre a história, concluindo-a e, assim, terminar a agonia de corpo. Um ponto trabalhando com excelência por Carrisi.

O enredo é firme e se vira ao avesso diversas vezes, características típicas do gênero policial. Mas mesmo com os giros, ela não perde sua força. Mais do que uma mera tentativa de causar um efeito de surpresa, as mudanças que ocorrem na trama são resultado de um movimento maior. Possuindo traços de originalidade ao fazer ataques a boas personagens, sem medo.

O aliciador do título remete-se a conclusões tiradas no decorrer da investigação, mas a dúvida é o que mais permanece no caso. A bela capa da Editora Record corrobora os acontecimentos da trama com uma imagem escura e uma personagem com poucos traços precisos, um homem invisível. Sempre a um passo a frente, como apresentado na mesma capa. E a escolha do título em português parece boa já que seu original Il suggeritori, pelas minhas pesquisas, significa alguém que sugere algo a outros. Sendo um bom homem com palavras e, assim, um aliciador.

O livro está nas listas dos mais vendidos na Itália e foi vencedor do prêmio Mediterraneo del Giallo e del Noir (Prêmio Mediterrâneo para thrillers e romances policiais/Noir). Surpreende por ser um romance de estréia coeso e pesado. Dando bons indícios de que Carrisi pode figurar entre os grandes escritores se continuar apresentando histórias nessa mesma estrutura ou ainda superiores.

sábado, 12 de junho de 2010

Alta Fidelidade: Meditações Sobre Spinoza e Eu



Quando estamos na infância, vivemos um mundo a parte. Um receptáculo colorido e diferente daquilo que perde a cor e se chama mundo adulto.

Após anos de crescimento que ficamos sensíveis e perceptíveis a diversos acontecimentos que passaram por nós naquela época e éramos inocentes ou bobos demais para compreender.

A cena da criança invadindo uma sala cheia de adultos é clássica. E a ação dos mesmos, barrando-a, dizendo que isso não era para ela, papo de adultos, também é a resposta mais comum.

Porém, engana-se quem pensa que no amadurecimento todos os significados caem como uma luva. E saímos gritando pelados, como Arquimedes: Eureka, eureka, eureka.

Amadurecimento vem em fases também. E, de repente, aquilo que não compreendíamos se resolve dentro de nós como um raio. O resultado dessa mudança é a somatória do que vivenciamos.

Lembro-me de uma cena específica de um livro que li. A personagem principal, leitora assídua de livros, comprara no sebo um exemplar de Lord Jim de Joseph Conrad. E nas primeiras páginas havia a assinatura do antigo dono dizendo que começou a ler o livro e não gostou, sendo, provavelmente, um dos piores da sua vida. A personagem se espantava pois, no final do livro, havia outra escritura do antigo dono. Dizendo que, anos depois, tentou reler a obra e ela se revelou como algo preciso.

Exponho a idéia de maturidade e do tempo que se revela dando nos a resposta porque há anos sofro uma espera que, enfim, chegou.

Eu fazia meu segundo cursinho pré-vestibular em uma escola diferenciada, com aulas de filosofia na grade. De lá sairia uma das professoras inesquecíveis de minha vida, Denise D´Incao, ou Dona Denise como costumava chamá-la.

Dona Denise era formada em filosofia. Era culta. Impossível não sentir prazer ao conversar com ela. O diálogo fluía, ela fazia boas colocações, citava filósofos te incitando a lê-los. É digna de admiração.

A história não me lembro bem. Lembro do que ela me disse. Estudávamos sobre os Pré-Socráticos e, em uma divagação sobre Deus, permanecemos diversos minutos falando sobre esse conceito. Confesso que nunca me importei fugir dos temas das aulas. Qualquer tema conversado em classe com ela era digno de conhecimento.

Então pensei em Deus e lhe perguntei, qual o filósofo que mais falou de Deus? Ela, em frente a minha mesa, ergueu os olhos pensativos, em silêncio. Mas respondeu, Spinoza. Leia Ética, dele.

Imediatamente, abri meu caderno para anotar, uma indicação assim não poderia ser perdida. Mas ela não havia terminado, mas leia só quando fizer vinte e cinco anos. Diante de minha cara de assombro, completou, é um daqueles textos que mudam sua vida, sua forma de pensar.

O relato aconteceu há seis anos atrás, eu tinha, então, dezenove anos. E achei injusto quebrar a regra, não seguir o conselho dado por Dona Denise. Então, esperei. A cada aniversário esperei, lembrando-me, vez ou outra, que aos vinte e cinco eu leria Spinoza.

Em vinte de maio completei meus vinte e cinco anos. E não quero entrar nos sentimentos naturais dessa época, fazer uma narrativa que relembre o passado e figure o presente. Foi a Ética que me veio a mente.

Depois de seis anos, eu poderia, enfim, seguir o conselho da mestra filósofa. E tenho aqui, em minhas mãos, uma edição do livro de Spinoza. O Qual desejo ler assim que possível.

Pergunto-me o que há nesse livro que, na visão dela, seria capaz de mudar a base de alguém. Que eu teria estrutura para compreendê-lo apenas agora e não seis anos atrás.

Sei apenas que a espera foi amarga mas deliciosa. Espera boba, sei disso. Mas não deixo de pensar que, ao ler o livro, eu perceba que, de fato, ele ainda não estava pronto para mim, ou vice-versa.

Dona Denise, segui seu conselho a risca e agora, aos vinte e cinco eu abro as palavras de Spinoza esperando que ele me diga o que a senhora tentou esconder de mim. E agradeço, imensamente toda a sabedoria que me deu em suas aulas. Elas permaneceram em mim.

Alta Fidelidade, a coluna semanal do criador desse blog que, finalmente, lerá Espinoza. Aqui é possível falar abertamente sobre alguns temas sem que exija uma resenha para tal. Pretende-se abordar todo o tipo de assunto cultural, seja ele sobre livros, filmes, dvds, cds e, nessa semana, a compressão entre maturidade e livros.



quarta-feira, 9 de junho de 2010

Dead Set, Série Completa

Espiadinha básica e degustação de vísceras

Histórias cujo tema central seja zumbis são capazes de dividir seu público. Há quem goste de zumbis e outros que não. Faço parte do primeiro grupo, fã de George Romero e das diversas reinvenções apresentadas durante esse tempo, como o bom Zombilandia.

Mais do que a velha história de que zumbis são um símbolo de uma sociedade não pensante, por si só são tipos divertidos. Um grupo que, comendo carne humana, espalha seu vírus, doença, bactéria, o que for, criando uma sensação de claustrofobia. Só há uma chance contra zumbi, ser devorado ou ser devorado.

Assim como outros seres superhumanos, como vampiros, zumbis sempre estiveram na moda. Mas ao contrário dos primeiros que conseguem recriações exageradas e chegam até a brilhar em certas ocasiões – ver Crepúsculo – histórias envolvendo os comedores de carne humana costumam mudar seu pano de fundo apenas.

Com esse conceito em mãos, o britânico Charlie Brooker teve uma idéia que merece crédito. Unir os sempre divertidos zumbis, também reflexo de uma sociedade oriunda de uma forma sem pensamento, com um programa de grande alcance global, conquistadora de público e muita audiência, tendo até mesmo uma versão de sucesso no Brasil: O Big Brother.

Dividido em cinco capítulos com meia hora cada (apenas o primeiro tem o dobro de tempo), Dead Set foi lançada em 2008 e reapresentada integralmente na noite do Halloween em 2009. Sua ação passa-se quase totalmente dentro do universo televisivo que produz o reality show.

Sem explicação, como a maioria das boas histórias de zumbis, os comedores de corpos começam a aparecer de repente, mordendo de maneira aleatória até criar uma epidemia. Entre mortos, feridos e fugitivos, o único refúgio seguro acaba sendo a casa mais vigiada da televisão. Aquela da espiadinha básica brasileira.

Misturando sanguinolência, vísceras ao quadrado e o humor britânico, a série cria um bom argumento inédito. Sua duração é o tempo necessário para que todas as reviravoltas zumbísticas ocorram: o medroso que abre a porta deixando mais zumbis entrar – e sendo assim devorado por um bando, os egoístas que só pensam em salvar a si próprio, os altruístas que acreditam, de fato, que o amigo mordido não virará um zumbi e todas aquelas características deliciosas que fazem uma história de zumbi se tornar nojenta e divertida.

Dead Set já estreou no Brasil, pelo canal Multishow em 2009, mas infelizmente ainda não saiu em dvd, não que a série não seja encontrada em um clique. Importante ressaltar que no início de cada episódio há um aviso dizendo que a série contém violência, sangue e é melhor se vista em uma tela plana, com um som bem alto, e no escuro.



terça-feira, 8 de junho de 2010

[Notícia] A Sétima Temporada de House M.D. (2)


Início das gravações da nova temporada

Breve notícia sobre a produção da sétima temporada de House, confirmada oficialmente por Omar Epps em seu twitter na noite de sábado. De acordo com Epps, o início das gravações da nova temporada iniciam-se em 14 de Junho. O que significa que está bem perto.


Segue abaixo a mensagem original retirada do twitter do ator.






Fiquem ligados, notícias serão publicadas sempre as terças ou sextas feiras.



segunda-feira, 7 de junho de 2010

A Semana em Filmes (31 de Maio a 05 de Junho)


Um Crime Perfeito (A Perfect Murder)

Dir. Andrew Davis


Mesmo com diversos bons filmes em sua carreira, tem-se a impressão que Michael Douglas concentra-se sua força em personagens parecidos. Utilizando sua voz rasgada, o cabelo laqueado e o ar suposto de superioridade que já lhe transformou em um magnata de Wall Street, um advogado acusado de assédio sexual, um psiquiatra renomado e, nesta produção, em um homem que deseja assassinar a mulher.
Baseada na peça de Frederick Knott, Um Crime Perfeito é a releitura contemporânea de um clássico do diretor Alfred Hitchcock, Disque M Para Matar. Na trama, sai de cena o tenista profissional e entra um milionário investidor de ações que ao descobrir a traição da esposa – a normalmente insossa Gwyneth Paltrow – com um artista – Viggo Mortesen de longe o mais competente dos três atualmente - tece um plano para matá-la sem ser incriminado.
Ainda que o enredo possua um argumento interessante e até mesmo o próprio crime elaborado seja bem feito e escorado em uma trama plausível, falta um elemento verdadeiro de suspense que de autenticidade a trama. Michael Douglas exerce bem seu papel de ameaçador, mas não consegue ir além disso.
O resultado é um filme parcialmente bem elaborado, com boa fotografia e direção correta, mas que não traz consigo nenhuma cena marcante, sendo uma daquelas produções que muitos não se lembraram se viram ou não.





A Cela (The Cell)

Dir. Tarsem Singh


Sucesso não necessariamente traduz qualidade. É uma afirmação que muitos tem conhecimento e caso não fosse válida, talvez o cinema seria melhor. Assim seriamos poupados de diversas produções estreladas por Jennifer Lopez. Filmes que não acrescentam nada e provavelmente foram criados por mente brilhantes, grupos de empresários que achavam que a cantora era um bom investimento para as telas. A produção A Cela é um dos supostos grandes sucessos da atriz, um misto de terror psicológico com a história de um serial killer.
Na trama, Lopez é a Dra. Catherine Deane, uma psicóloga que encabeça um novo estudo sobre a psique humana: uma sala que permite a entrada no inconsciente humano, através da imersão completa do corpo em uma roupa especial. Sua ajuda será requisitada pelo policial Peter Novak, detetive encarregado da captura do serial killer Carl Stargher que desevolveu um dispositivo de tortura chamado a cela, um quarto de vidro que se enche de água aos poucos. Como o assassino é capturado inconscientemente por causa de uma doença rara, cabe a doutora entrar em sua mente e descobrir onde está a última vitima capturada, antes que ela morra.
O ínicio da produção tem bom fôlego, a busca policial pelo assassino é eficiente e os crimes em si são chocantes, segurando a atenção de uma narrativa rasa. Porém, quando a trama se debruça no seu recurso central,  o uso do programa que penetra no inconsciente de outra pessoa, a ação desacelera cedendo para os efeitos especiais. Parte deles são bem aproveitadas, criando bons cenários dentro de uma mente doentia, mas a quebra da história policial não da liga para o desenlace da história que termina com Lopez vestida de santa católica em certo momento.






Pacto Secreto (Sorority Row)

Dir. Stewart Hendler


O gênero Terror possuiu um mundo a parte que não inclui o universo de outros gêneros. Nele aquilo que imaginamos conhecer como padrão pode ser destruído e arranjado de outra maneira. Um mundo frívolo de estereótipos.
Mulheres significam devassidão e ardor sexual – a exceção de uma feia excluída do grupo, homens traduzem seres infiéis que aceitam qualquer, qualquer tipo de bebida desde que contenha álcool – e até os feios podem se tornar legais após o primeiro jarro de cerveja.
Esses aspectos são um dos que mais divertem nas produções de terror, além do exagero entre massacre e sangue. A obviedade do roteiro é tamanha que com o público já deduzindo até os sustos, os roteiristas procuram por inovações que transformem a produção em algo genuinamente divertido.
A premissa de Pacto Secreto é a mesma de sempre. Um grupo de amigas, de uma fraternidade, resolve dar um susto em um garoto que traiu uma delas, pregando-lhe uma peça onde a namorada traída se finge de morta. Com o rapaz desesperado as garotas encenam o mis-en-scene do que fazer com o corpo quando, de surpresa, o garoto crava uma chave de roda – sim, uma chave de roda – no peito da garota, descobrindo que ela estava viva e agora está morta. A decisão geral é sumir com o corpo e a arma do crime e esquecer o ocorrido. Mas, como já foi aprendido em Eu Sei O Que Vocês Fizeram No Verão Passado, os pecados sempre voltam a tona.
É a partir desse ponto que a produção da seqüência a cenas absurdas de assassinato e segue a risca a cartilha das produções. O que não traduz-se como má qualidade. Uma produção do gênero sempre me agrada pelo seu estilo tosco e me faz rir com a estupidez exagerada. A começar com uma chave de roda como instrumento de morte do assassino, Pacto Secreto é uma dessas produções que não acrescentam nada mas, ao contrário de muitos filmes do gênero, em vez de aborrecer, não assustam mas atinge uma das metas de se produzir um filme: a diversão. Assistam sem levar a sério.