domingo, 13 de junho de 2010

O Aliciador, Donato Carrisi

"A grande mariposa o transportava, movendo-se de memória pela noite. Vibrava as asas poeirentas, fugindo da vigilância das montanhas, quietas, ombro a ombro como gigantes adormecidos.
Acima deles, um céu de veludo. Abaixo, o bosque. Denso.
O piloto virou-se para o passageiro e indicou um enorme buraco branco no chão diante deles, parecido com a garganta luminosa de um vulcão."

Autor: Donato Carrisi
Editora: Record
448 pag.

Tradução de Eliana Aguiar





A Itália tem nos dado bons escritores policiais. Basta observar duas das mais prolíficas coleções do gênero no Brasil, a Coleção Negra da Record e a coleção com bordas coloridas da Companhia das Letras, para constatar diversos autores italianos, alguns com livros merecedores de prêmios. Desta seleção, Andrea Camilleri é, provavelmente, um dos maiores da contemporaneidade com uma sólida obra.

Nascido em Martina Franca, Donato Carrisi se apresentou como mais um bom escritor do gênero no incrível O Aliciador, seu romance de estréia.

As bases que sustentam a trama foram escolhidas com precisão, e nos apresentam seis braços de meninas desenterrados em um bosque logo na primeira cena. Fazendo uso equilibrado do chocante crime envolvendo crianças, imagens que sempre chocam e cativam Sendo o público em uma história do gênero, forçando-o a ler mais e mais.

As personagens são construídas em dois núcleos: A equipe que investiga a ação, centralizada por Goran Gavilla, um civil com habilidades tão afiadas para investigação que se torna consultor da polícia nos casos difíceis; e Mila, uma policial perita em traçar perfis de seqüestradores que recém salvou uma garota mantida em cativeiro por um molestador. Evidente que os dois núcleos se fundem em um, fazendo de Mila a novata do grupo de Gavilla.

As personagens do time de investigação são bem compostas, dando a completude de uma equipe de verdade. Especialistas de diversas áreas que apóiam a investigação do outro e personalidades fortes em combate.

As bases criminais e forenses são transpassadas de uma maneira verídica para a narrativa. Cenas brutais de assassinatos não são poupadas a quem lê. É a procura pelo choque no leitor que causa a ansiedade por conhecer mais sobre a história, concluindo-a e, assim, terminar a agonia de corpo. Um ponto trabalhando com excelência por Carrisi.

O enredo é firme e se vira ao avesso diversas vezes, características típicas do gênero policial. Mas mesmo com os giros, ela não perde sua força. Mais do que uma mera tentativa de causar um efeito de surpresa, as mudanças que ocorrem na trama são resultado de um movimento maior. Possuindo traços de originalidade ao fazer ataques a boas personagens, sem medo.

O aliciador do título remete-se a conclusões tiradas no decorrer da investigação, mas a dúvida é o que mais permanece no caso. A bela capa da Editora Record corrobora os acontecimentos da trama com uma imagem escura e uma personagem com poucos traços precisos, um homem invisível. Sempre a um passo a frente, como apresentado na mesma capa. E a escolha do título em português parece boa já que seu original Il suggeritori, pelas minhas pesquisas, significa alguém que sugere algo a outros. Sendo um bom homem com palavras e, assim, um aliciador.

O livro está nas listas dos mais vendidos na Itália e foi vencedor do prêmio Mediterraneo del Giallo e del Noir (Prêmio Mediterrâneo para thrillers e romances policiais/Noir). Surpreende por ser um romance de estréia coeso e pesado. Dando bons indícios de que Carrisi pode figurar entre os grandes escritores se continuar apresentando histórias nessa mesma estrutura ou ainda superiores.

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