quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Ray Charles, Live at the Olympia (DVD)




Artista
: Ray Charles
DVD: Live At The Olympia
Distribuidora: Som Livre
Ano: 2010

01 - Blues for Big Scotia
02 - The Way You Look Tonight
03 - Route 66
04 - A Song for You
05 - Hallelujah I Love Her So
06 - Georgia on My Mind
07 - Stranger in My Own Home Town
08 - Angelina
09 - I Got a Woman
10 - Hey Girl
11 - Almost Like Bein´ in Love Again
12 - Just for a Thrill
13 - It Had to Be You
14 - What´d I Say




A primeira viagem à Europa de Ray Charles havia sido em 1960, quando realizou um show no lendário Olympia, em Paris. Em 2000, 40 anos depois, no ano em que completaria 70 anos, o Genius voltou à Europa e resolveu coroar a turnê com uma segunda apresentação no Olympia, que seria inclusive gravada em DVD, o primeiro ao vivo do músico. Mas nada é tão simples assim na vida de Ray Charles.

Na noite anterior ao show o Genius se apresentou em Lisboa, e foi pego de surpresa por uma greve da companhia aérea que fazia o trajeto Lisboa-Paris. Os músicos que acompanhavam Ray eram ao todo 32, contando as Raellets, e o empresário do músico conseguiu (em outra empresa) apenas 7 passagens para a França. Embarcaram somente Ray Charles, a base da banda - ou seja baixo, guitarra e bateria - , 2 homens para arrumar o palco e os instrumentos e o empresário de Ray, e foi com essa formação, desfalcada das backing vocals e da Big Band que Ray Charles fez a apresentação resgistrada nesse DVD.

Esse show é uma grande prova de que dificuldades inesperadas podem ser imensamente benéficas à arte. Um show tradicional renderia sem dúvida uma grande gravação, mas perderíamos a imagem de um homem, já em seu ocaso, pleno de suas habilidades e superando obstáculos para entregar uma performance simplesmente brilhante.

Logo que soube que precisaria fazer o show apenas com a banda base, Ray resolveu mudar o setlist para que as músicas se adequassem melhor à formação diminuída e privilegiasse não só os ótimos músicos que o acompanhavam, mas que também desse todo o foco à sua figura.

O show abre com Blues For Big Scottia e logo nessa entrada, juntamente com as subsequentes The Way You Look Tonight e a clássica de Bobby Troup, Route 66, podemos constatar que - sabiamente - o Genius deslocou o foco das músicas, do seu tradicional soul, para uma pegada mais jazzistica, aproveitando assim o que de melhor a sua banda e seu próprio virtuosismo como instrumentista poderiam oferecer. É simplesmente genial. Em especial a instrumental The Way You Look Tonight é soberba, mostrando com detalhes o timming perfeito da banda, que com certeza se sentia mais solta sem todos os metais que 'engrandeciam' o som. Talvez uma das poucas vezes em que Ray Charles gravava sem a Big Band desde que migrou pra Columbia lá na década de 60.

O show segue com A Song For You, agora sim mais próximo do soul, em uma belíssima versão toda focada no vocal e no teclado. Na sequência Ray engata dois grandes sucessos, Hallelujah, I Love Her So, que funciona muito bem e fica bem próxima da gravação original e o hino Georgia On My Mind, com pegada bem distinta da gravação clássica. Ray conta com efeitos do teclado para compensar a falta da Big Band, que é parte integrante da canção. O resultado é uma versão bem mais sofrida desse melancólico standard.

O tom melancólico abusando dos efeitos de teclado segue em Stranger In My On Home Town e Angelina, essa última dando também um belo espaço à guitarra. O sucesso I've Got a Woman começa nesse mesmo teor, mas logo se transforma no soul arrebatador de sempre, produzindo um dos pontos altos do show. A música seguinte, Hey, Girl, da Carole King é curiosa, já que a banda nunca a havia tocado antes. Isso mesmo, Ray Charles colocou uma música inédita em um setlist de um show já cheio de problemas!

Mas incrível mesmo seria a parte final da apresentação. Fora as ótimas versões de Almost Like Being In Love Again, Just For a Thrill e It Had To Be You, o brilho está mesmo no número de encerramento, a revolucionária What'd I Say, que é uma canção inteiramente baseada na interação entre Ray e suas Raellets. Nenhum dos músicos conseguiu entender quando o Genius a escalou no set list, mas ele apostou que a música era tão conhecida que o próprio público poderia fazer o papel das Raellets respondendo ao astro no palco. É até desnecessário dizer o quão brilhante é essa idéia, assim como é desnecessário dizer que deu absolutamente certo, resultando no climax perfeito para um show histórico por diversos motivos, entre eles - o principal deles - a altíssima qualidade musical apresentada.

PS: Devo dizer que Ray Charles me deu toda uma nova impressão sobre como um teclado pode ser um instrumento brilhante, e é realmente interessante vê-lo longe do tradicional piano e usando a diferença dos instrumentos como diferencial para o som.

PS2: O DVD contém uma entrevista com o empresário de Ray, onde ele conta exatamente os acontecimentos que levaram ao show. Seria um ótimo extra, se não fosse o fato de não ter legendas. Sério, realmente não dava para legendar um trecho de 14 minutos?







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