domingo, 28 de novembro de 2010

A Odisséia de Homero, Gwen Cooper

"A rotina quando eu chego em casa no fim do dia é sempre a mesma.
A campainha do elevador é a primeira pista para seus ouvidos sensíveis de que estou chegando. Quando a chave entra na fechadura, já posso perceber a pressão leve das patinhas do outro lado da porta. Reparei que costumo abrir todas as portas – até mesmo na casa de outras pessoas – com cuidado para que nenhum danadinho peludo acabe fugindo."

Autora: Gwen Cooper
Editora: Sextante
284 pag.

Tradução de Fabiano Morais




Mercados editorais seguem tendências naturais de consumo. Editoras esforçam-se para possuir em catálogo um livro concorrido que resulte em grandes tiragens e altas vendas. Ainda que, inevitavelmente, alguns leitores façam reclamações quanto a tais livros – os populares Best Sellers - são eles que garantem parte da renda mensal de uma editora, sendo capaz de proporcionar o lançamento de livros que, ainda com certo público, não terão muito apelo nas vendas.

Uma reflexão com um leve retrocesso temporal deixa claro o fluxo das tendências. O bruxo Harry Potter trouxe a magia para o primeiro plano; os vampiros que brilham de Stephanie Meyer deu outra dimensão a seres quase mortos – abrindo espaço também para zumbis, lobisomens e outros nichos; Dan Brown com seu O Código da Vinci apimentou as teorias conspiratórias embasadas em fatos históricos que simulam a realidade e John Grogan trouxe a tona o sentimento catártico e sensível que os humanos sentem por seus animais de estimação em Marley e Eu.

Quatro exemplos de temáticas diferentes resultam em, no mínimo, cinqüenta livros lançados nos últimos anos. Ainda que nem todos galguem a fama de mais vendidos, o filão conquista público que se interessou pela temática e aproveita a onda para apresentar outras histórias.

Mesmo que livre de qualquer preconceito sobre histórias, resultando em uma vasta – e variada – biblioteca, não posso deixar de admitir que enredos envolvendo animais sempre trouxeram-me incomodo.

O apelo sempre se torna maior do que a história em si. O leitor sente-se emocionado, pois, quem tem qualquer animal de estimação sabe que cada um tem um temperamento, e as vezes deixa de perceber que tal narrativa não possui talento além de algumas lágrimas furtivas.

Dentre os animais que guardamos no coração e passam por nossa vida, confesso que sou um amante de felinos. Me fascina a austeridade e a maneira furtiva na postura, o olhar sedutor e superior ao nos fitar. Esse texto só não acompanha a crítica feroz de minha bela gata loira porque, nesse momento, ela resolveu ficar de costas para mim – e para qualquer outra pessoa – dando a entender que está em um momento de sono e reflexão.

A Odisséia de Homero – título que remete ao famoso poema epopéico escrito na Grécia antiga – narra à prodigiosa história do gatinho Homero que, por causa do abandono nas ruas, perdeu a visão.

É com extrema paixão que sua dona, Gwen Cooper, narra as peripécias do felino. Partindo desde o primeiro encontro, no veterinário, quando ainda era uma bolinha de pelos que cabia em sua mão, até seu período maduro.

A presença de um animal, ainda mais desprovido de visão, desperta carisma imediato em seu leitor. Mas é devido a uma narrativa divertida e bem fluida que a vida de Homero transforma-se, de mais uma história de animais, para uma bela e boa história.

Cooper preocupa-se em construir um bom enredo que, utilizando seu amor por felinos como tema central, desenvolve-se além dele, abarcando as fases de sua própria vida e a construção dela acompanhada pelos seus três gatos que, naturalmente, fazem parte da família.

Ainda com a trama centrada no felino cego, Gwen discorre sobre a problemática em ser uma mulher de trinta anos que vive o trauma recente da separação e como nossos bichos de estimação, mesmo que de maneira muda e intraduzível, adentram nossa vida e nos presenteiam com sua peculiaridade ao dividir a vida conosco.

A essência sentimental da trama é inevitável. Mas vem carregada de um desenvolvimento que aproxima ainda mais o leitor e atinge seu momento crítico quando os felinos são obrigados a ficar sozinho em seu apartamento, proporcionando uma seqüência emocionante de fatos.

A Odisséia de Homero merece ser pinçada dentre os lançamentos do gênero. Mesmo que sua aptidão seja por outro animalzinho, é impossível não se apaixonar por Homero.

O livro traz em cada capítulo uma imagem do bichano e entrevistas com a autora e o gato tira colo estão disponíveis facilmente na internet.

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