domingo, 7 de novembro de 2010

A Semana em Filmes (31 de Outubro a 7 de Novembro), Tropa de Elite 2

Tropa de Elite 2 (Tropa de Elite 2)

Dir. José Padilha


Não há objetividade na arte. O fascino gerado por movimentos artísticos sempre ganham mais brilho na pluralidade de visões e opiniões. Suas impressões sempre refletem um eu interior de quem as vê. Sendo impossível uma análise seca de qualquer objeto e, muito menos, que dois argumentos de pessoas distintas concordem perfeitamente em uníssono.

Dessa maneira que, como um apaixonado por cinema, sofro diversas vezes. Tenho costume de rever a qualquer produção, mesmo as que, inicialmente, me pareceram ruins, pois, por causa dessa subjetividade, posso observar elementos que antes não fui capaz.

Foi dessa maneira que devo confessar que não tive simpatia pelo clássico Casablanca, muito menos por uma das grandes obras da Pixar, Ratatouille. O primeiro assisti em um ensolarado dia de verão, sem paciência para um profundo drama amoroso. Enquanto eu não esperava, no segundo, um toque tão sensível de delicadeza, imaginando que eu assistiria somente uma animação boba para me fazer rir.

Somente ao revê-los que me apaixonei. Somente em uma segunda observação tive a sensibilidade para notar, se não todos, boa parte da delicadeza da trama e, inevitavelmente, considerá-los grandes produções, que figuram na minha lista de melhores filmes, sem dúvida.

Com essa bagagem subjetiva que assisti pela primeira vez Tropa de Elite 2. Em um cinema de Araraquara, sem boa qualidade de som, nem imagem. Tratando-se de uma produção nacional, em que legendas não aparecem para ajudar na compreensão, foi evidente que sai descontente do cinema.

Fora a primeira vez que evitei fazer uma crítica, sem saber, ao certo, o que dizer. Pela minha apuração, fui o único a não gostar da produção. A enumerar defeitos que a faziam menor que o primeiro e tentar, pela multiplicidade de opiniões, expor a minha com bons argumentos.

Incrédulo que José Padilha poderia construir uma produção equivocada, deixei minha primeira crítica de lado e fui rever a produção, dessa vez em uma boa sala de cinema que, não só deixava os diálogos claros pelo bom som, como demonstrava bom uso do surround. E o incontestável fato da arte subjetiva estava correto novamente. Assisti a um filme espetacular.

Retomando a seqüência de acontecimentos da produção anterior, Tropa de Elite 2 expande sua trama de maneira global. A dinâmica anteriormente apresentada, concentrada na atuação do BOPE como parte da política de segurança do estado, apresenta agora a configuração por trás dessa rede. Cada setor que completa a orquestração da complexa melodia da política é apresentada ao público.

Construído de maneira similar à primeira produção, a totalidade dos eventos desenvolve-se em três partes distintas. Um retrocesso de quatro anos, envolvendo uma rebelião de Bangu, que explica porque o agora Coronel Nascimento foi desligado do BOPE, indo para a secretaria de segurança pública, como subsecretário; O esforço em modificar as estruturas do Rio de Janeiro e o grandioso ato final que transforma a guerra em luta pessoal.

A ação engendrata na primeira procução dá espaço para uma trama mais intricada, que explica como polícia, tráfico, política e milícias são unidas em um movimento macabro. A apresentação de cada elemento é feito de maneira correta, novamente utilizando-se de dois excelentes elementos que marcaram a primeira produção.

A narrativa do Coronel Nascimento, que acompanha a história, e encerra as amarras do filme é seca e agressiva, expõe a verdade mais crua e boa parte da opinião pública de quem observa as barbaridades mentirosas que surgem na tela.

Não bastando isso, José Padilha utiliza os próprios recursos cinematográficos para acompanharem – ou contradizerem – a narração. Acrescentando mais um detalhe sutil a história que demonstra a qualidade técnica da produção.

É corajoso desenvolver um longa que resulta em uma experiência oposta daquela de Tropa de Elite. Mas fieis à trama e as personagens, o desenvolvimento não poderia se realizar de maneira mais natural.

Seu gancho final é grandioso pela força. Coloca em cheque elementos apresentados de maneira universal no cinema. Analisa a potência de um herói e seu esforço em fazer o bem, processo semelhante a construção de Batman – O Cavaleiro das Trevas de Christopher Nolan. E se encerra com um plano sequencia, filmado em Brasília, que chega a provocar engulhos.

Com o sucesso da produção, hoje o filme brasileiro mais bem sucedido do ano, é questão de tempo para a idéia de uma continuação apareça. Padilha já disse em entrevista que não está em seus planos. Porém, até anos atrás, Tropa de Elite 2 também não estava.

Sendo capaz de realizar um enredo a altura, que de prosseguimento a boa narrativa das duas produções e não falhe na construção das personagens, não há porque não esperar outra seqüência. Ainda que é evidente que prosseguir com a história se torne um processo cada vez mais delicado
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