sábado, 30 de junho de 2012

Michael Jackson, Thriller

Artista: Michael Jackson
Álbum: Thriller
Gravadora: Epic
Ano: 1982

01 - Wanna Be Startin (Michael Jackson)
02 - Baby Be Mine (Rod Temperton)
03 - The Girl Is Mine with Paul McCartney (Michael Jackson)
04  - Thriller (Rod Temperton)
05 - Beat It  (Michael Jackson)
06 - Billie Jean (Michael Jackson)
07 - Human Nature (Steve Porcaro, John Bettis)
08 - P.Y.T. (Pretty Young Thing) (James Ingram, Quincy Jones)
09 - The Lady in My Life (Rod Temperton)


Depois de fazer o melhor de todos os álbuns da música disco, Michael partiu pra um salto ainda mais alto, fazer o melhor disco de toda uma geração. Então, em 30 de Novembro de 1982, depois de 8 meses de trabalho, chega às lojas norte-americanas o álbum que mudaria todo o panorama da indústria fonográfica mundial, Thriller.

Até hoje, esse álbum vendeu mais de 100 milhões de cópias, mais do que o dobro do segundo álbum mais vendido de todos os tempos. Michael Jackson, que já era um dos artistas mais conhecidos e importantes do mundo, passou a dominar o cenário musical de maneira inédita e nunca mais vista. Mas porque Thriller fez tanto sucesso? Ele merece toda essa badalação? Tentemos entender o disco faixa a faixa.

O álbum começa destruidor com uma gravação sublime, uma das 5 melhores da carreira de Michael, Wanna Be Startin Something.  A música é frenética do começo ao fim, com um instrumental muito criativo e inovador, usando uma ótima linha de baixo, efeitos eletrônicos e até uma cuíca, provavelmente influência do excelente percussionista Paulinho da Costa, que participou das gravações. Michael canta em estado de graça, entregando com certeza uma das melhores performances de sua brilhante carreira.

A letra é totalmente delirante e trabalha com a ideia de se virar pra mudar as coisas, mesmo que o que precisa de mudanças nunca seja sugerido, a ideia é mesmo de mudança no geral:

You got to be startin' somethin'
It's too high to get over (yeah, yeah)
Too low to get under (yeah, yeah)
You're stuck in the middle (yeah, yeah)
And the pain is thunder (yeah, yeah)

Você tem que fazer alguma coisa
é Alto demais para superar (Yeah, yeah)
Baixo de mais para render-se (Yeah, yeah)
Você fica preso no meio (Yeah, yeah)
E a dor é fulminante (Yeah, yeah)

Outro trecho interessante é quando Michael cita Billie Jean, a garota que será tema da melhor música do álbum (e da sua carreira e dos anos 80...):

Billie jean is always talkin'
When nobody else is talkin'
Tellin' lies and rubbin' shoulders
So they called her mouth a motor

Billie Jean está sempre falando
Quando ninguém mais está falando
Contando mentiras e não está nem aí
Então a chamaram de boca de motor

Ele já começa aqui a desacreditar Billie Jean pelas mentiras que conta, assunto central da música de mesmo nome.

Vale ainda destacar o trecho final da letra, referente a um ritmo camaronês o Makossa, que cantado pelos backing vocals, reforça o clima africano e de miscigenação que a canção traz.

A segunda faixa é Baby Be Mine a primeira de várias composições de Rod Temperton no álbum. É a primeira balada do disco e começa com uma bela introdução de sintetizador e um animado Michael Jackson acompanhado de bons e bem planejados backing vocals, compondo juntos uma inesquecível performance vocal. Thriller até nas baladas não perde o clima animado e dançante e essa música é um bom exemplo. A letra é bonita e direta, sem ter grandes destaques.

The Girl Is Mine é o fruto de uma prolífica, porém curta, parceria entre duas das mais reconhecíveis vozes do mundo, Michael e Paul McCartney. Eu não consigo descrevê-la de outra maneira que não seja encantadora. É uma balada leve e lindíssima, baseada nas belas vozes dos dois e em um “duelo” musical, já que a letra é uma conversa entre dois sujeitos que amam a mesma mulher e a disputam.

(Paul)
I love you more than he
(Take you anywhere)
(Michael)
But I love you endlessly
(Loving we will share)

Paul)
Eu a amo mais que ele
(Te levarei a qualquer lugar)
(Michael)
Mas eu amo interminavelmente
(unidos vamos compartilhar)

Paul e Michael fazem uma verdadeira disputa, pois ambos estão ótimos em suas interpretações e criam um pequeno teatro com alguns trechos falados. A música foi o primeiro single do álbum, muito provavelmente por conta da participação de Paul, que chamaria um público diferente do habitual de Michael. Os produtores não poderiam imaginar que após esse disco, todo mundo seria o público alvo de Michael Jackson!

Depois da calmaria e do clima romântico construído pela dobradinha Baby Be Mine / The Girl Is Mine, a música título vem como um torpedo. Com sua sonoridade surreal, imitando o clima dos filmes de terror, a composição de Rod Temperton tornou-se o maior ícone dos anos 80.

Começa com barulhos, de portas rangendo, passos, cães latindo, trovões e culmina com um sintetizador subindo alucinadamente, seguido por uma excelente linha de baixo e Michael entrando com seu icônico “soluço”. O canto de Michael ganha aqui um ar meio misterioso, cheiro de sussurros, pra combinar com a letra de terror da canção, mas explode no refrão, um dos mais conhecidos de todos os tempos:

'Cause this is thriller
Thriller night
And no one's gonna save you
From the beast about to strike
You know it's thriller
Thriller night
You're fighting for your life
Inside a killer
Thriller tonight, yeah

Porque isto é terror
Noite de terror
E ninguém vai te salvar
Do monstro prestes a atacar
Você sabe que é terror
Noite de Terror
Você está lutando por sua vida
Em uma assassina
Noite de terror, yeah

Vale destacar a célebre narração do astro do cinema de terror Vincent Price, que amplia magnificamente o clima da canção e também o videoclipe, até hoje considerado o melhor já produzido em todos os tempos, que ajudou a alavancar as vendas do álbum e deu forças pra, até então, incipiente indústria do videoclipe.
A canção seguinte é outro clássico, Beat it, um rock a la Michael Jackson, com a participação de Eddie Van Hallen nas guitarras, o que trouxe o público roqueiro para a cena pop e R&B de Michael.

O instrumental é um rock bem construído, com base em guitarra, mas sem nunca deixar de dar destaque à potente interpretação de Michael. O destaque fica para o virtuoso solo de guitarra, que provavelmente foi o primeiro que muita gente ouviu na vida, já que não era nada comum em canções de R&B.

A letra é um libelo contra a violência e as brigas de gangue e é uma das melhores da carreira de Michael:

You have to show them
That you're really not scared
You're playing with your life
This ain't no truth or dare
They'll kick you, then they beat you
Then they'll tell you it's fair
So beat it, but you wanna be bad

Você tem que mostrar a eles
Que você realmente não está assustado
Você está brincando com sua vida
Isto não é verdade ou desafio
Eles vão te chutar, então vão te bater
Então eles irão te dizer que é justo
Então cai fora, mas você quer ser mau

Billie Jean é o ponto alto do álbum, é a música que levou Thriller perenemente às paradas de sucesso. Começa com uma bateria marcante seguida pela melhor linha de baixo de todos os tempos. Na sequência entra o teclado e a voz de Michael, que, apesar de calma no começo da canção, é tensa e desesperada, desespero esse que se acentua até atingir o auge no refrão da canção, quando ele brada que Billie Jean está mentindo e que a criança que ela espera não é filho dele. Sim, a letra da música conta a história (real) de uma moça que persegue Michael dizendo que ele é o pai do filho dela!

People always told me:
- Be careful what you do
- And don't go around breaking young girl's hearts
And mother always told me:
- Be careful of who you love
- Be careful of what you do
- Cause the lie becomes the truth
Billie Jean is not my lover
She's just a girl
Who claims that I am the one
But the kid is not my son

As pessoas sempre me disseram:
- Cuidado com o que você faz
- E não saia por ai partindo o coração das mocinhas
E minha mãe sempre disse:
"Cuidado com quem você ama"
"Cuidado com o que você faz"
"Porque a mentira se torna verdade"
Billie Jean não é minha amante
Ela é só uma garota
Que diz que sou o "cara"
Mas o garoto não é meu filho

A performance vocal de Michael nesta música é a melhor da vida dele, ele soa assustado, paranoico, enquanto tenta convencer o ouvinte de que a moça está mentido e ele fala a verdade, o instrumental soturno reforça o clima de desconfiança, criando uma das melhores gravações de toda a história da música, o ápice de um artista que –naquele tempo – não parecia conhecer limites.

Depois da paranoica canção anterior, Human Nature traz de volta as baladas. Esta, na minha opinião, é a melhor que Michael já gravou. A música foi a última a entrar na setlist do álbum, já que o compositor, Steve Porcaro, pretendia gravá-la com sua banda, mas acabou enviando a demo para Quincy Jones, que resolveu colocá-la no Thriller, um grande acerto!

O instrumental delicado é focado no teclado e segue bem suave durante toda a canção, com Michael a interpretando quase ofegante, dando uma sensação de paixão que é muito bem executada.  A letra mostra um homem que apesar de ter uma mulher, não resiste ao “chamado da rua” e a trai constantemente:

Looking out across the morning
Where the city's heart begins to beat
Reaching out, I touch her shoulder
I'm dreaming of the street

Olhando para fora através da manhã
Onde o coração da cidade começa a bater
Esticando a mão para tocar o ombro dela
Estou sonhando com a rua

Michael é tão delicado em sua interpretação que nos faz entender e simpatizar com um “traidor”.

P.Y.T. (Pretty Young Thing) é a única música composta pelo produtor Quincy Jones a entrar no setlist final e é canção mais fraca do álbum, apesar de ser boa. Começa com uma narração e segue com um ritmo animado com os backing vocals interagindo bem com a voz de Michael, mas a melhor parte é a letra, que é interessante e ousada:

Don't you know now is the perfect time
We can dim the lights
Just to make it right
In the night
Hit the lovin' spot
I'll give you all I've got

Agora você não sabe que este é o tempo perfeito,
Nós podemos ofuscar as luzes,
Somente faça-a direito,
Na noite,
Acerte o local amoroso,
Eu darei a você tudo que eu tiver recebido.

O disco fecha com uma bonita balada, a terceira música de Rod Temperton no álbum, The Lady in My Life.  É uma música romântica mais tradicional, com uma linda letra e um instrumental correto, muito bem defendida por um dedicado Michael. Possui uma mudança de ritmo no meio que dá um brilho a mais a interpretação, além de um bom trabalho com o backing vocal, que é feito pelo próprio Michael que em uma faixa de áudio canta a letra e na outra faz um belo contra canto. Um calmo fechamento para um disco tão agitado.

Thriller foi o auge da parceria entre Michael e o produtor musical Quincy Jones, que havia começado no Off the wall e se estenderia até o Bad. Essa parceria tirou o que havia de melhor no imenso talento de Michael e deu solidez a ele para produzir suas obras-primas e dominar o mundo.

Uma pena que todo artista que chega a um nível inimaginável de qualidade e criatividade, não tem pra onde ir a não ser pra baixo, e isso em breve aconteceria com Michael.



sexta-feira, 29 de junho de 2012

Michael Jackson, Off The Wall

Artista: Michael Jackson
Álbum: Off The Wall
Gravadora: Epic
Ano: 1979

01 - Don't Stop 'Til You Get Enough (Michael Jackson)
02 - Rock With You (Rod Temperton)
03 - Workin' Day And Night (Michael Jackson)
04 - Get On The Floor (Michael Jackson, Louis Johnson)
05 - Off The Wall (Rod Temperton)
06 - Girlfriend (Paul McCartney)
07 - She's Out of My Life (Tom Bahler)
08 - I Can't Help It (Stevie Wonder, Susaye Greene)
09 - It's the Falling in Love (Carole Bayer Sager, David Foster)
10 - Burn This Disco Out (Rob Temperton)


Sabe, eu estive me perguntando, sabe. Se ela poderia continuar . Porque a força é muito poderosa. E me dá vontade de... Me dá vontade de...

O passo seguinte na carreira de Michael Jackson inicia-se de maneira enérgica nas frases que culminam em um grito que parece a busca desesperada pela liberdade em relação ao passado, frente a um presente aberto para experimentações musicais.

No hiato entre a gravação do último album pela Motown e a produção de seu disco que iniciaria sua carreira adulta, o cantor se aventura nos cinemas em uma produção musical inspirada na história de O Mágico de Oz. Sem um grandioso sucesso e repercusão, o filme foi crucial para que Michael encontrasse o produtor Quincy Jones, que trabalhava na trilha sonora do filme. Foi o primeiro passo para uma parceria que apresentaria ao mundo um novo cantor que marcaria para sempre a história musical.

Off The Wall apresentaria o músico de maneira madura, produzindo seu primeiro marco musical. Com três canções de autoria própria, além de uma de Paul McCartney e Steve Wonder, o disco é conectado com seu tempo e excelente para também transgredí-lo.

As tradicionais músicas americanas são deixadas de lado para uma imersão maior no ritmo pop. Não a toa o título evoca o movimento, como se Michael, emparedado pela Motown, saisse em liberdade com muita energia para gastar. O álbum mergulha na disco music, popular na época, e não há medo em arriscar sonoridades e texturas sonoras.

A abertura energética com Don´t Stop Till Get Enough marcaria a partir daqui excelentes primeiras faixas em seus álbum. O ritmo é frenético como se desse vazão a um sentimento contido. Ao contrário das canções dançantes de hoje, que exageram no eletrônico, a base melódica é composta por um baixo e teclado, instrumentos de fato.

É notável desde a primeira faixa uma característica que permaria outra canções de sua carreira. A contemplação do ritmo. O silêncio da voz dando destaque há um solo musical (aqui um piano arrepiante), espaço para que o cantor demonstrasse que seu suingue não estava somente na voz, mas sim também no corpo.

A inovação ia além da música, além da dança. Os clipes musicais para divulgação eram verdadeiras obras de arte com arroubo criativo e tecnologia. Hoje pode se ter a impressão de um efeito precário, mas muitos adolescente da época devem ter ficado de cabelo em pé ao ver Michael Jackson se triplicando na tela e, em sincronia, realizando a mesma coreografia.

 Após a abertura explosiva, Rock With You tem ritmo mais calmo, mas não menos dançante. A primeira do disco composta pelo britânico Rod Temperton. Novamente, o tema é a própria dança, a sinergia que ela é capaz de produzir, elemento primordial nesse álbum. As palmas que acompanham a batida da música dão uma sensação de urgência a ela, como se um publico fictício que a ouvisse não conseguisse ficar em silêncio, entrando no ritmo.

Segunda composição de Jackson para o álbum, Workin´Day and Night  parece um tanto cômica, deixando a impressão de também refletir uma referência a canção dos Beatles. Sobre um homem que reconhece sua vontades e sabe que não é a pessoa ideia para a garota. Novamente a experimentação surge, no início com os vocais e a batida seca, no refrão com o backing vocal do cantor em diversos tons diferente.

A ode a disco music não para e impressiona pela simplicidade. Canções que dialogam sobre a dança e música e que são ricas de instrumentos, cheia de funk, pop e soul. Get On The Floor marca a segunda composição de Jackson no álbum, dessa vez em parceria com Louis Johnson.

Off The Wall que dá título ao álbum é a canção mais malandra até aqui. Desenvolve a ideia de deixar tudo para lá, deixando o ritmo te levar. A canção é outra que trabalha a capacidade vocal de Jackson, aproveitando seu poderoso vocal agudo, diferente daquele quando criança, agora forte e preciso. A levada funk e a temática se aproximam até mesmo de Sossego de Tim Maia. Ambas canções querem a busca por uma liberdade fora dos regimentos naturais.

Girlfriend faz uma pausa no som dançante para exalar singeleza em uma canção de amor que só Paul McCartney é capaz de compor. Seria o prelúdio de um encontro musical que estaria registrado em Thriller com The Girl Is Mine, interpretada em perfeição por ambos.

A balada do disco fica nas mãos de She´s Out Of My Life. Sendo a única do disco, é provável que foi escolhida a dedo. Sua letra é agridoce e a voz de Michael Jackson atinge o ápice do sentimentalismo. Entregando uma canção que machuca de tão sincera.

De maneira lenta a temperatura volta a subir. I Can´t Help de Steve Wonder marca a única semelhança entre a carreira juvenil e o momento adulto. O refrão sincopado acompanha a vocalização do cantor que parece a vontade revisitando mais uma vez uma canção de Wonder, o colega de antiga gravadora.

It´s The Falling In Love é a canção mais tradicionalista do disco. Injusto seria chamá-la de fraca em um disco excelente. Sua função é realizar a estrutura de base do disco. Sendo um conectivo entre a anterior e a última faixa, não esquecendo de aumentar o ritmo e a temperatura que eclodirá na última faixa.

Burn The Disco Out, também de Temperton, é o necessário ato final deste pelo disco. A junção de funk, soul, R&B e groove de Michael Jackson chega ao ápice em uma canção que não deixa ninguém parado. Há uma quantidade tão grande de misturas nesse caldo sonoro que o resultado não poderia ser outro. A destruição daquilo que se conhecia como música pop, colocando tudo abaixo e consagrando Michael Jackson como um talento nato.

A recepção do disco foi calorosa desde a época de seu lançamento e hoje se mantém como um dos discos obrigatórios nas listas musicais. Deveria ter sido assustador a sensação de ouvir o disco na época de seu lançamento. E mais devastador ainda imaginar que aquele disco impar seria apenas o primeiro de um melhor que viria em seguida.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Michael Jackson, Forever, Michael

Artista: Michael Jackson
Album: Forever, Michael
Gravadora: Motown
Ano: 1975

01 - We're Almost There (Edward Holland, Jr., Brian Holland)
02 - Take Me Back (Edward Holland, Jr., Brian Holland)
03 - One Day in Your Life (Sam Brown III, Renée Armand)
04 - Cinderella Stay Awhile (Michael Burnett Sutton)
05 - We've Got Forever (Elliot Willensky)
06 - Just a Little Bit of You (Edward Holland, Jr., Brian Holland)
07 - You Are There (Sam Brown III, Randy Meitzenheimer, Christine Yarian)
08 - Dapper Dan (Don Fletcher)
09 - Dear Michael (Hal Davis, Elliot Willensky)
10 - I'll Come Home to You (Freddie Perren, Christine Yarian)


Depois de três bons álbuns em um curto período de 2 anos, Michael Jackson se preparava pra sair da Motown com seus irmãos (e deixar o nome Jackson 5 por lá). Esse álbum é fruto dessa saída, já que por contrato ele foi obrigado a lançar um último trabaho com a gravadora (o álbum já estava em processo de gravação durante o rompimento).

A saída dos irmãos Jacksons da Motown não foi muito amistosa e isso se reflete neste álbum, que é sem dúvida nenhuma o mais fraco dessa primeira fase da carreira solo do artista.

O que vemos aqui é um trabalho burocrático e totalmente pasteurizado, sendo francamente decepcionante, frente ao progresso que o artista apresentava. A principal razão para o rompimento é que a Motown controlava completamente seus artistas, impondo que gravassem músicas escolhidas pelos executivos e impedindo os artistas de comporem suas próprias canções, e desta forma foi feito o álbum.

A sonoridade deste disco é muito focada em baladas e – estranhamente – ignorou a onda disco dominante que havia inclusive sido adotada com êxitos pelos Jackson 5, e que iria ser o guia tanto do The Jacksons (com algumas gravações memoráveis) quanto do primeiro disco da segunda fase da carreira solo de Michael (o delirantemente bom Off The Wall). Imagino que o plano da Motown era deixar a banda com a sonoridade Disco e transformar Michael em um astro da música romântica... nem preciso dizer o quão estapafúrdia é essa ideia, já que durante toda a sua carreira Michael sempre fez belíssimas baladas (Human Nature do Thriller talvez seja a mais icônica) mas dominou o mundo à base de um som dançante e profundamente rítmico.

O álbum abre com We're Almost There, que é uma boa canção, de fato, uma das melhores gravações do álbum. Traz um vocal mais adulto de Michael, mas os problemas do disco começam já aqui. A sonoridade é cheia de efeitos de teclado datados, Michael apesar de sempre cantar bem, claramente não está se esforçando e o backing vocal é redundante e mal utilizado. A letra é razoável, variando entre trechos bonitos:

No broken bridges
Can turn us around
Cause what we're searchin' for
Will soon be found

Nenhuma ponte quebrada
Pode nos fazer voltar
Porque aquilo que estamos buscando
Está próximo de ser encontrado

E partes piegas (que costumam ser relevadas quando o instrumental e o canto se destacam, o que não é o caso aqui):

Look at the lonely lovers
That didn't make it
Life's long hard climb
They just couldn't take it

Olhe os amantes solitários
Que não conseguiram
A vida é uma longa escalada
Eles simplesmente não aguentaram

Take Me Back já começa com um maldito instrumental estourado que domina o disco e – sinceramente – põe tudo a perder. A melodia é um desastre, ao mesmo tempo tentando emular uma sonoridade própria da Motown (e falhando miseravelmente) e inserindo uma percussão no fundo que tenta soar tribal, mas só confunde o ouvinte. A letra é um clichê de amor:

Take me back
Take me back where I belong
That's with you baby

Leve-me de volta
Leve-me de volta pra onde eu pertenço
Que é com você, baby

O backing vocal continua equivocado (com contra cantos muito mal executados) . Não havia o que Michael fazer para salvar a canção... talvez se recusar a gravá-la.

One Day in Your Life melhora consideravelmente a qualidade da obra. Não é uma obra-prima, longe disso, mas é uma bonita canção, sendo um ponto alto do álbum, tanto na parte melódica (reparem na boa condução da bateria), quanto na interpretação de Michael, que a defende delicadamente e com sentimento.

Essa gravação comprova plenamente o que disse anteriormente, que uma letra clichê pode ser compensada pelos outros elementos da canção:

One day in your life
You'll remember the love you found here
You'll remember me somehow
Though you don't need me now
I will stay in your heart


Um dia na sua vida
Você vai lembrar do amor que encontrou aqui
Você vai lembrar de mim de alguma forma
Embora você não precise de mim agora
Eu vou ficar no seu coração

Essa música é a que mais fez sucesso no álbum e a mais reconhecível pelo público ainda hoje.

Na sequencia Cinderella Stay Awhile mantém razoavelmente o nível, usando uma sonoridade disco bem interessante. Lembra uma canção do ABBA, mas não é tão memorável quanto, digamos, Dancing Queen, pois apesar de musicalmente bem construída, falta um ritmo frenético típico das melhores músicas disco.

We've Got Forever volta à instrumentação megalomaníaca, com um órgão a la Elton John abrindo a canção e um arranjo todo no teclado. Apesar de trazer um frescor pra um disco tão convencional, ela não atinge jamais o brilho o necessário para ser considerada memorável. Novamente aqui o backing vocal faz um belo estrago e – unido ao instrumental exagerado – ofusca negativamente a interpretação de Michael.

Just a Little Bit of You começa empolgante e é muito bem defendida por Michael. A letra é novamente o clichê romântico mediano do restante do álbum:

Just a little bit of you every day
Will surely keep the doctor away

Só um pouquinho de você todo dia
Com certeza manteria o doutor longe

Mas o instrumental disco funciona realmente bem aqui (e verdade seja dita, os backing vocals também). Se o álbum tivesse seguido essa levada (a que o The Jacksons seguiria posteriormente) teria sido muito mais bem realizado.

You Are There infelizmente deixa de lado a animação e volta às baladas... de maneira pedestre. A introdução parece Yanni e o canto de Michael abandona o tom adulto que ele havia adotado, soando bobo. A letra só reforça os problemas:

Like a rainbow after rain
Like the night follows day
You're the answer to the prayers I say,

Como um arco-íris após a chuva
Como a noite segue o dia
Você é a resposta pra todas as minhas orações

Realmente é um ponto baixo do álbum.

Quando o álbum parecia ir pro buraco de vez, Dapper Dan salva a pátria. É a melhor gravação do álbum, investindo em tudo que foi negligenciado no restante da obra, bom ritmo, instrumentação interessante, bom uso dos backing vocals e – principalmente – uma interpretação solta de Michael, que vinha sendo “preso” pelas baladas que dominam o álbum. Na verdade a própria letra explica a sonoridade da canção:

I got rhythm and a whole lot of soul
I can dance I can shake it baby (He can dance)
I'm just a little country boy
Harmonica in my hand I got soulful rhythm in me
I'm a get down dancin man
Shalalala boom boom

Eu tenho ritmo e bastante soul
Posso dançar, posso mexer baby (Ele pode dançar)
Eu sou só um garotinho country
Harmônica em minha mão... eu tenho ritmo cheio de soul em mim
Sou um dançarino cheio de vida
Shalalala boom boom

Na sequência vem Dear Michael, uma boa balada, com uma letra auto-referencial e uma sonoridade que, apesar de seguir o esquema exagerado do álbum, funciona bem e se destaca. A interpretação vocal é boa, ainda que não incrível, mas o destaque aqui é mesmo o instrumental, que é muitíssimo bem executado.

O disco fecha com I'll Come Home to You que abre com uma narração (recurso muito usado na década de 70 em baladas) e nunca chega a empolgar, e soa muito piegas no refrão:

Wherever I go, whatever I do
I'll always come home
I'll come home to you

Não importa onde eu vá
Não importa o que eu faço
Eu sempre voltarei pra casa com você

Michael canta bem nesta faixa, mas mesmo assim a música não soa como nada diferente de uma daquelas que tocam em comerciais de coletâneas avulsas de “sucessos românticos da década de outo” ou “Love songs”. Uma pena.

No geral Forever, Michael é um disco fraco, com poucas músicas que se destacam e mesmo essas sem a qualidade esperada. Fica claro que a Motown deu rumo errado às gravações e que Michael Jackson estava descontente quando gravou. O álbum não fez muito sucesso e por isso mesmo levou o artista a repensar seu rumo, já que claramente ele precisava de uma mudança de sonoridade. A mudança veio com Off The Wall.


quarta-feira, 27 de junho de 2012

Michael Jackson, Music & Me

Artista: Michael Jackson
Álbum: Music & Me
Gravadora: Motown
Ano: 1973


01 - With a Child's Heart (Vicky Basemore, Henry Cosby, Sylvia Moy)
02 - Up Again (Freddie Perren, Yarian)
03 - All the Things You Are (Oscar Hammerstein II, Jerome Kern)
04 - Happy (Michel Legrand, Smokey Robinson)
05 - Too Young (Sidney Lippman, Sylvia Dee)
06 - Doggin' Around (Lena Agree)
07 - Johnny Raven (Billy Page)
08 - Euphoria (Leon Ware, Hilliard)
09 - Morning Glow (Stephen Schwartz)
10 - Music and Me (Jerry Marcellino, Mel Larson, Don Fenceton, Mike Cannon)


Em 1973, um ano após Got To Be There e Ben, Michael Jackson grava Music & Me. A proximidade entre lançamentos pode causar estranhamento hoje mas, na época, era comum que músicos disponibilizassem álbuns em anos próximos, provavelmente, por ser esse um dos poucos contatos – os outros seriam o rádio e a televisão – que  estabeleciam relação entre público e artista.

As gravações datam do ano de lançamento ao anterior e a mudança de timbre de Michael é perceptível. Algumas das canções mantém seu estilo juvenil enquanto outras roçam no que se tornaria seu timbre consagrado.

O terceiro álbum de estúdio é uma evolução natural dos anteriores. Apresenta o tradicional R&B com mais requinte, com orquestração de pianos e violinos sintéticos, apresentando maior estrutura para que o cantor interprete diversos clássicos americanos consagrados. Além de um Michael desconcontente com a gravadora Motown que proibiu que músicas de sua autoria entrassem na gravação.

Dentre sua discografia é o disco com a capa mais antiquada. Sem uma imagem icônica dos primeiros e um conceito dos posteriores. Mesmo sem tocar nenhum instrumento no álbum, Jacko dedilha um belo violão Fender, em uma imagem colocada quase ao acaso em um fundo verde sem muito contraste.

As canções de Steve Wonder reaparecem na versão de With a Child Heart, ganhando leveza na interpretação e rimo mais encorpado. Sem intensão, a música seria um símbolo daquilo que se tornaria Michael Jackson. Alguém que tanto na carreira como na vida pessoal não desejava perder a inocencia infantil além de defender a causa de uma juventude positiva para as crianças do mundo.

Up Again tem uma beleza singular por se completar bem entre interpretação músical, melodia e letra. Explicita como o cancioneiro americano do século passado era rico. Talvez Music & Me seja o álbum que mais recorra a canções tradicionais e consagradas por diversos cantores. Como se, passado o desafio da estréia, houvesse a intenção de mostrar a superioridade vocal de Michael.

All The Things You Are, Are Mine é a primeira a situar-se no grande cancioneiro americano, regravada por diversões medalhões da música. Na versão, fica perceptível a mudança de timbre do artista, ainda que os agudos ainda mantenham-se como anteriormente seu grave começa a transformar-se.

Happy faria parte da trilha sonora do filme Lady Sing The Blues, sobre a vida de Billy Holliday, porém nunca esteve na produção ou em sua trilha sonora em LP. O sucesso da canção viria de qualquer forma, sendo o quarto e último single do álbum.

O cancioneiro americano é revisitado em Too Young, versando sobre o amor que não tem idade. Nas diversas e diversas interpretações, Nat King Cole reina supremo com sua voz aveludada. Mesmo a bela voz  de Michael não completa a madura versão de Cole.

Ainda que na versão em cd se perca a divisão original feita para o vinil, Doggin´ Around é a primeira faixa do Lado B, visivelmente mudando o tom do álbum, que apresenta três faixas seguidas (ao lado de Johnny Raven e a divertida Euphoria) com ritmo frenético.

Algumas das faixas do álbum são creditadas a Michael Jackson com The Jacksons 5. Dando a entender que, embora a banda participasse do disco, o irmão mais talentoso estava privilegiado de qualquer maneira. Morning Glow é uma das faixas que destaca a participação vocal do grupo e funciona também para observar a discrepância de talento entre Michael e os outros quatro irmãos.

Derradeira faixa que entitula o álbum, Music & Me é outra canção que representa um pouco do significava Michael Jackson. Apesar de não ser de autoria própria parece feita sob medida. Apresenta um momento único entre cantor, musica e seu significado. Se observamos o ambito biográfico, em que muitas vezes o próprio Jackson discorreu sobre a dificuldade de sua infância, a canção estabelece um processo libertário. O espaço que lhe permitiu firmar seu dom.

Sem muita divulgação por conta de uma turnê dos The Jacksons 5, ainda assim, Music & Me gerou  singles e canções que se tornaram importantes na totalidade da carreira do astro. Estranhamente, de sua discografia, é o álbum mais dificil de se encontrar . No Brasil, foi um dos dois discos – o outro é Forever, Michael – que não foi relançado quando toda sua obra foi reeditada.

Em 1993, a Motown Records lançou uma coletânia com o mesmo nome, produzindo uma generalizada confusão entre álbum e coletânea. A seleção apresenta quase todas as músicas do álbum original – exceto Doggin´ Around – além de outras faixas desse período. Pode servir de substituto para o disco original -  possuindo uma edição brasileira -  mas a confusão deve ser evitada.




terça-feira, 26 de junho de 2012

Michael Jackson, Ben

Artista: Michael Jackson
Álbum: Ben
Gravadora: Motown
Ano: 1972


01 - Ben (Walter Scharf, Don Black)
02 - Greatest Show on Earth (Mel Larson, Jerry Marcellino)
03 - People Make the World Go 'Round (Thom Bell, Linda Creed
04 - We've Got a Good Thing Going (The Corporation [Alphonso Mizell, Berry Gordy Jr., Deke Richards, Freddie Perren])
05 - Everybody's Somebody's Fool (Gladys Hampton, Regina Adams, Ace Adams)
06 - My Girl (Smokey Robinson, Ronald White)
07 - What Goes Around Comes Around (Allen Levinsky, Arthur Stokes, Dana Meyers, Floyd Weatherspoon)
08 - In Our Small Way (Bea Verdi, Christine Yarian)
09 - Shoo-Be-Doo-Be-Doo-Da-Day (Sylvia Moy, Henry Cosby, Stevie Wonder)
10 - You Can Cry on My Shoulder (Berry Gordy)


Ben é o segundo álbum solo de Michael Jackson, do mesmo ano de Got to Be There. Michael ainda era membro dos Jackson 5, mas a gravação desses álbuns prova que a gravadora já via nele um talento e uma capacidade acima dos seus irmãos, o que viria a se confirmar nos anos posteriores.

Este álbum ainda é uma obra totalmente de intérprete, não tendo nenhuma música composta pelo pequeno Michael. A maioria são regravações de sucessos do R&B de artistas da própria Motown, mas a faixa título é uma composição feita para um filme de mesmo nome e gravada originalmente por Michael.

A faixa de abertura é justamente esta que dá nome ao álbum, Ben. Gravada para o filme de mesmo nome (um filme de terror que conta a história de um menino e seu rato), foi o único single do álbum e foi um sucesso absoluto, chegando ao 1º lugar da Billboard e sendo indicada ao Oscar de melhor canção original.

Ben é uma delicada balada que privilegia a grande qualidade de Michael nessa primeira fase de sua carreira, que era a interpretação vocal ao mesmo tempo suave, emocionante e poderosa. O instrumental nunca se destaca, sendo um acompanhamento perfeito à voz de Michael e ao backing vocal que é também é discreto, apenas reforçando a interpretação vocal.

A letra é uma ode a uma amizade pura, com a voz da canção dizendo ao amigo “Ben” que antes eram solitários e agora um apoia o outro. É curioso que a letra da canção funciona para sustentar o estranho plot do filme, de um garoto que tem um amigo que é um rato:

Ben, most people would turn you away
I don't listen to a word they say

Ben, a maioria das pessoas te mandaria embora
Eu não escuto nada do que eles dizem

E também funciona por si só, mostrando um amigo que é diferente (aí cabe ao ouvinte pressupor qual diferença ele traz), mas que tem alguém que ignora as diferenças, ou as abraça, e que sempre estará ali por ele. Não é por menos que é a mais famosa canção solo de Michael na fase pré Off The Wall e uma das mais belas baladas sobre amizade de todos os tempos.

Greatest Show on Earth é mais animada, com um instrumental que se destaca mais (e um som bem anos 70). A letra é uma brincadeira entre o Circo (Maior espetáculo da Terra), aqueles parques de diversão itinerantes (carnival) e o amor, que como diz o refrão:

Love, love, love
Is the Greatest Show on Earth

Amor, amor, amor,
É o maior espetáculo da Terra.

É uma bonita canção e mantém o bom nível do álbum.

Na sequência vem People Make the World Go 'Round, um dos pontos altos do disco, uma música política que lembra muito Marvin Gaye. A instrumentação é muito interessante, bem diferente do restante do disco, a interpretação de Michael e os backing vocals fazem um bom trabalho dando um ar estranho à música, mas é a letra que se sobressai, com mensagens diretas à situação da época nos Estados Unidos, que soam atuais ainda hoje, como nos versos:

Teachers on strike, no more school today
They want more money but the board won't pay

Professores em greve, não há mais escola hoje
Eles querem mais dinheiro, mas a Câmara não vai pagar

Criando uma canção bem diferente do que os Jackson 5 tocavam na época.

We've Got a Good Thing Going é outra excelente canção deste início de álbum, novamente uma balada com belo trabalho vocal e instrumentação suave, mas que mostra uma faceta romântica que já começava a redirecionar o público de Michael para os adolescentes, diferenciando ele de seu trabalho com os Jackson 5 (e que seria o rumo que depois a banda tomaria como The Jacksons).

Hey my girl
She did something to my chemistry
And when I'm close I'm sure
I raise her temperature by 3 degrees

Ei, minha menina
Ela desperta algo em minha química
E quanto estou perto dela tenho certeza
Que faço a temperatura dela subir uns 3 graus

Esse pequeno trecho mostra uma letra um pouco mais adulta, mas ainda ingênua, exatamente o direcionamento que a Motown deu à carreira de Michael.

Everybody's Somebody's Fool é outra balada (elas dominam claramente este álbum) mas com um clima bem mais pessimista que as canções anteriores:

It's beautiful to watch love begin
But oh so sad when it ends
As you got through life remember this rule
Everybody's somebody's fool

É lindo ver amor começar
Mas é tão triste quando acaba
Enquanto você segue a vida, lembre-se dessa regra
Todo mundo é o tolo de alguém

Novamente é perceptível a mudança de público alvo, mas a canção traz uma lição moralizante que ameniza o pessimismo:

But remember sister or brother
You all have to answer to the one u above

Mas lembre-se, irmão ou irmã
Vocês todos terão que responder pro homem lá de cima

A parte instrumental reforça o clima, sendo bem calma, perfeita pro esquema seguido no álbum, com Michael fazendo um vocal bonito, mas delicado e os backing vocals acompanhando e “respondendo”.

My Girl é um clássico de Smokey Robinson gravado originalmente pelos Temptations. Essa gravação original é uma das mais famosas do R&B americano (foi número 1 da Billboard) e a canção uma das mais regravadas de todos os tempos, tendo destaque a versão maravilhosa de Otis Redding, a curiosamente fiel versão dos Rolling Stones, a do The Mamas & the Papas, a sussurrada versão country de Dolly Parton (rebatizada de My Love), a inusitada (e ótima) versão ska de Prince Buster, a bela versão alternativa do Jesus and Mary Chain, o famoso dueto de Ami Stewart e Johnny Bristol (com outro clássico, My Guy sendo tocado junto com My Girl) e a animada versão de seu compositor, Smokey Robinson, mas devo dizer que Michael fez um bom serviço aqui.

Sua versão muda um pouco o ritmo da música original, principalmente porque os backing vocals são diferentes daqueles dos Temptations, o que cria um clima mais animado ao clássico, inclusive com um arranjo muito bom, onde os instrumentos se destacam bastante, rivalizando com a ótima e segura interpretação de Michael.

Nem é preciso comentar a letra de uma música tão famosa, mas é uma bonita canção sobre um homem se gabando de como seu mundo é melhor e todos o invejam apenas porque ele tem essa garota maravilhosa.
A 7ª faixa é What Goes Around Comes Around é uma legítima “dor de corno”, mas curiosamente apenas na letra, já que a melodia é animada, com uma instrumentação ágil aliada a um backing vocal muito ativo, criando uma sonoridade bem setentista. Novamente vemos Michael cantando um material mais adulto, e ele se sai muito bem colocando o sentimento necessário na letra.

How could you be so mean and untrue?
He didn't want you until he'd seen
What my love did for you

Como você pode ser tão má e mentirosa?
Ele não te quis até ver
O que o meu amor fez por você.

In Our Small Way começa com uma parte falada que novamente lembra Save the Children de Marvin Gaye, tornando-se uma referência clara, já que a letra dessa canção é levemente política e Gaye havia lançado sua obra prima What’s Going On no ano anterior. Aqui Michael soa como uma versão adocicada de Gaye, ou seja, com um discurso apaziguador mas sem a subversão de Gaye. A sonoridade é típica da Motown na época (é bom lembrar como a gravadora costumava “igualar” a sonoridade de seus artistas).

Maybe you and I can't do great things
We may not change the world in one day
But we still can change some things today...
In our small way

Talvez você e eu não consigamos fazer grandes feitos
Nós talvez não mudemos o mundo em um dia
Mas nós ainda podemos mudar algumas coisas hoje...
De nosso pequeno jeito

Apesar de ser uma boa gravação, a ideia da Motown não funcionou, já que falta o espírito de Gaye a está canção.

Shoo-Be-Doo-Be-Doo-Da-Day é uma regravação bem fiel de Steve Wonder, e ainda que Michael faça um belíssimo trabalho vocal, dando uma bela dinâmica à canção, a versão de Wonder é claramente superior, afinal, é muito difícil derrotar o gênio em seu próprio domínio e Michael levaria alguns anos e alguns álbuns para adquirir toda a dinâmica que o transformou no maior artista do mundo.

O álbum fecha com You Can Cry on My Shoulder uma canção composta por Berry Gordy o chefão da Motown, e isso explica o porquê dela ser a música mais convencional do álbum, sendo composta pra ser um daqueles sucessos da fábrica da Motown.

É basicamente uma “dor de corno”, com o cantor dizendo que a amada, que acabou de perder seu amante, pode chorar no seu ombro. A letra chega a dizer que se ela quiser, ele a ajuda a recuperar o cara... no geral é a canção mais fraca do álbum.

Ben é uma obra muito diferente tanto da sonoridade dos Jackson 5 como do que viria a ser a sonoridade do Rei do Pop, construída a partir do Off The Wall. É claramente perceptível que ele não tinha influência alguma nos arranjos ou escolha de repertório, o que produz um disco com menos ousadia do que o normal, mas que é salvo e plenamente compensado pelo belíssimo trabalho vocal de um jovem, mas absurdamente talentoso Michael Jackson.

Conta a favor do álbum ainda a presença de algumas excelentes versões (My Girl é a melhor delas) e um single que é uma das grandes músicas do cancioneiro americano (Ben). No final Ben traz uma faceta diferente de Michael, que talvez tenha sido ofuscada pelo seu posterior domínio da cena musical, mas que vale a pena ser conhecida.


segunda-feira, 25 de junho de 2012

Michael Jackson, Got To Be There

Artista: Michael Jackson
Álbum: Got To Be There
Gravadora: Motown
Ano: 1972


01 - Ain't No Sunshine (Withers)
02 - I Wanna Be Where You Are (Ware/Ross)
03 - Girl, Don't Take Your Love From Me (Hutch)
04 - In Our Small Way (Verdi/Yarian)
05 - Got to Be There (Willensky)
06 - Rockin' Robin (Thomas)
07 - Wings Of My Love (The Corporation)
08 - Maria (You Were The Only One) (Brown/Glover/Gordy/Story)
09 - Love Is Here And Now You're Gone (Holland-Dozier-Holland)
10 - You've Got A Friend (King)


Enquanto reinava absoluto como estrela máxima de seu grupo familiar, The Jacksons 5, o pequeno Michael Jackson gravou em 1971 seu primeiro álbum solo. Lançado no ano seguinte, Got To Be There apresenta um garoto de apenas treze anos com sorriso sincero e maroto na capa, diferente daquele Michael Jackson que se tornaria o icônico rei do pop.


Sem nenhuma composição assinada pelo cantor, as gravações demonstram sua capacidade interpretativa já apurada, tanto em estética vocal quanto na textura emotiva. As canções transitam ao redor do amor em embates de conquista e perda, revisitando o cancioneiro da época e consagrando, ao menos, dois registros definitivos de canções.

Com apenas dez faixas, número comum em uma época cujo álbum era destinado somente para vinil, a seleção é coesa e demonstra segurança no primeiro passo da carreira solo. Abrindo o disco, Ain´t No Sunshine é apresentada com introdução falada e desemboca na urgência da perda amorosa com agudos perfeitos e cristalinos. Exemplo do talento nato de Michael Jackson em uma época em que não havia melhoramentos digitais na voz.

A energética I Wanna Be Where You Are acelera o ritmo em sua letra leve dando espaço para outra balada de lamento amoroso, Girl Don´t Take Your Love Away. A sensível In Your Small Way agrada pela ideia simples de se vivenciar o amor a partir de pequenos momentos. O ritmo desacelerado da canção se completa na balada título do álbum, Got To Be There.

De Elliot Willensky a canção-título parece ser escrita especialmente para Jackson que a interpreta com ternura. Foi a primeira canção de sua carreira solo a conquistar a parada de mais ouvidas e uma das músicas mais lembradas quando se fala de sua época juvenil.

Entre as idas e vindas amorosas, a animada Rock Robin levanta o fôlego e produz um entreato das delicadas interpretações que recomeçam na belíssima e simples Wings Of My Love, uma declaração explícita de amor que, provavelmente, acompanhou muitos namorados da época. 

Maria (You Were the Only One) prossegue a linha dessa vez escolhendo uma musa específica como adoração, que se encerra em Love Is Here and Now You're Gone um desfecho melancólico para uma história amorosa. Como canção derradeira, o amor fraternal vem a tona, na clássica canção de Caroline King, You´ve Got a Friend que Michael canta com propriedade em uma melodia sincopada e contagiante.

Quatro canções alcançaram as paradas de sucesso. Embora o The Jacksons 5 continuasse na ativa, o primeiro álbum solo de Michael Jackson demonstrava, em definitivo, quem era a estrela máxima do conjunto e, desde já, apontava o talento e energia em cada interpretação.

Got To Be There merece ser descoberto, tanto para constatar o talento óbvio do músico como uma pérola menor, mais ainda assim pérola, de uma carreira que seria abrilhantada em sua máxima potência no futuro.


A Importância de Ser Michael Jackson

A potência de Michael Jackson não necessita de uma longa observação. Basta assistir um vídeo de qualquer uma de suas canções – faço sugestão para a interpretação espetacular de Billy Jean no especial de 25 anos da Motown – para vislumbrar seu talento.

Desde criança me lembro do rei do pop. Ainda que de maneira não explícita, nem linear, sem capacidade de contemplar sua carreira como um todo. Me recordo das paródias de I´ll Be There feitas por meus primos e eu. Billy Jean, Thriller e Beat It, únicas canções que ouvia no álbum homônimo – ainda novo demais para compreender a supremacia deste disco. E Dangerous que ouvi muitas vezes, no fone de ouvido, tentando decifrar a belíssima capa cheia de imagens interpretativas.

Mesmo que se queira negar ou desconhecer, todos sabem Michael Jackson. O homem e seu passo de dança inconfundível. E, provavelmente, já o imitou de meias, no chão encerado de casa, falhando miseravelmente, nem que ao menos uma vez, nem que ao menos na infância.

A música pop como conhecemos transformou-se radicalmente com o legado de suas canções. Não a toa um de seus álbuns tornou-se o mais vendido mundialmente. E, até hoje, imitadores de todo mundo são identificados quando tentam reproduzir seu gingado inconfundível, trajando chapéu e uma luva branca.

A vida de Michael Jackson foi vasta, mas o legado que nos interessa é o ritmo. A intenção é desconsiderar as notícias retrospectivas sobre a vida e obra do cantor, que estarão em destaque no terceiro ano de sua morte, para enfocar naquilo que o consagrou em definitivo a um patamar que nunca será preenchido nem antes nem depois: sua genialidade musical.

Durante as duas semanas seguintes, diariamente, o blog analisará álbum a álbum da carreira solo do cantor. Desde Got To Be There até Immortal, segundo álbum póstumo, trilha de uma apresentação do Cirque Du Soleil.

No momento que marca mais um ano de despedida do rei do pop, nada mais certo que ouvi-lo em alto e bom som. Eis o patromônio eterno de seu legado musical.

Acompanhe o calendário e não perca um dia sequer.

Especial Michael Jackson

25/06 - Got To Be There
26/06Ben
27/06Music And Me
28/06Forever, Michael
29/06Off The Wall
30/06Thriller
01/07Bad
02/07Dangerous
03/07HIStory
04/07 - Blood On The Dance Floor
05/07Invincible
06/07Michael
07/07Immortal
08/07This Is It