quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Os Descendentes

(The Descendants, 2012)
Diretor: Alexander Payne
Elenco: George Clooney, Shailene Woodley, Amara Miller, Nick Krause.

Não por acaso, a história de Os Descendentes se passa no Havaí. Desconstruindo o imaginário universal do ambiente sempre alegra e festeiro. Não para Matt King. O acidente que deixa sua esposa em coma é o início da desconstrução de sua vida. Torna-se papel central em uma família com duas filhas que não respeitam sua autoridade. Além de descobrir que sua esposa era infiel.

A composição da trama é desoladora do início ao fim. Aborda a relação familiar e sua destruição pela perda de um alicerce.Caminha com segurança entre gerações e suas heranças. Revela que até as relações mais sagradas esconde um segredo. Fios narrativos que atravessam a forte personagem delineada de maneira magnífica por George Clooney.

Sua interpretação transita em profundidade o labirinto sentimental de um homem maduro. Destruído por dentro mas necessitando força por ser a nova base familiar. Contído, Clooney apresenta a devastação da personagem pela calmaria. Não há espaço para dramas superficiais. A narrativa devasta o espectador aos poucos. Conduz a história sem moralismo prévio, produz catarse no ponto sensível de cada expectador. Reflete por seu vazio.

Na dualidade da arte que imita a vida e seu reverso, a crítica não estaria completa se não quebrasse a barreira entre a análise e palavras mais pessoais que necessitam também uma inserção no texto.

Após a sessão de cinema, retornando para casa, encontrei um conhecido que me contou sobre um acidente que sofreu no transito por conta de um casal, em outro veículo, que não obedeceu um sinal fechado. No dia seguinte, o colega recebeu um telefonema da mulher envolvida na batida pedindo-lhe que realizasse um acordo informal como resolução do problema. O homem e a mulher no carro eram amantes e a esposa dele não poderia ter conhecimento do acidente.

Não posso deixar de mencionar o abismo que se ampliou em mim, deixando-me ainda mais deslocado com a história de Matt King. De repente, a vida, como a arte, urgiu, sem pedir licença ou perdão.

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