quarta-feira, 29 de agosto de 2012

O Vingador do Futuro (2012)

(Total Recall, 2012) 
Diretor: Len Wiseman
Atores: Colin Farrell, Kate Beckinsale, Bryan Cranston, Jessica Biel

Mais uma vez, a confortável segurança se destaca em Hollywood. Mais vale uma regravação com bilheteria garantida do que um argumento inédito. O escolhido da vez é O Vingador do Futuro, ficção científica baseada em um conto de Philip K. Dick, dirigida por Paul Verhoeven e estrelada por Arnold Schwarzenegger no auge.

Como comparações tornam-se inevitáveis, a medida a se seguir é o distanciamento. Deixam de lado o brucutu e selecionam um ator sem porte musculoso – sem carisma, também, diga se de passagem - e um diretor que em nada se parece com o original, mas tem em seu currículo uma franquia famosa – Underworld, Anjos da Noite – e a direção de Duro de Matar 4.0. É o suficiente para entregar o mesmo produto sem as características que o fizeram especial.

A trama gira em torno de dois polos mundiais que sobreviveram após uma guerra: A União da Bretanha – centro enriquecido – e a Colônia – onde vive a maioria da população em um ambiente sobrecarregado. Douglas Quaid tem sua vida revirada quando ao se aventurar em um programa que simula a realidade, descobre que pode não ser quem acreditava.

Embora com a base igual, a grande diferença geral entre filmes de ação de décadas passadas e contemporâneos é a mudança de polo narrativo. Mantendo um exemplo dentro da carreira do próprio Schwarzenegger, em Comando Para Matar temos um filme simples de um pai que transforma o mundo em sua guerra particular para salvar a filha. E mais nada. Os argumentos eram mais simples, as motivações mais superficiais e, em um filme de ação, é o bastante.

Hoje temos personagens que além de tentarem salvar sua família ou a própria pele estão preocupados com um elemento social maior do que si. Na trama de 1990, que confesso não lembrar com precisão para citar diferenças, há uma preocupação muito maior em Quaid de descobrir quem se é. Nesta regravação, além desse objetivo, há um elemento superior, a reviravolta que surge como obrigação para esconder uma história sem fôlego. Como se não coubesse mais nos filmes deste estilo uma personagem caminhar para uma jornada de auto conhecimento colocando abaixo tudo e todos que estão contra ele.

A única cena eficiente de ação é revelada pelo trailer, quando Quaid na sede da Recall ataca uma equipe de policiais. Realizada de maneira ágil, com uma câmera que circula a ação, avançando e retrocedendo, a sequencia é boa mas destoa do resto do filme.

Quem mais derruba a produção é a personagem contraposta a figura central, Lori Quaid, vivida por Kate Beckinsale. Sua interpretação é tão exagerada que não há suspensão de descrença que justifique a afetação. Sua vilã seria mais característica dos tais filmes de ação passados do que nessa releitura mais próxima de um futuro real.

De fato, a concepção realista tem feito mal para diversos filmes. Tem sido prisão para que muitos gêneros se condensem em uma fórmula frouxa. Negando uma tradição erigida há mais de cem anos, tem-se perdido a base do que é uma boa história a ser contada para o público.

A nova versão de O Vingador do Futuro é uma prova desta afirmação. Uma regravação que não acrescenta nada pois não tem nem arroubo original, nem se esforça para ser bem feita, nem que fosse apoiada em clichês.

Porém, ainda que em um papel secundário, o excelente Bryan Cranston anima. Provando que mesmo sem destaque no cinema vem crescendo pelas pontas e, em breve, bem provavelmente, começará a ser estrela principal de seus filmes.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Compramos Um Zoológico

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(We Bought A Zoo, 2012)
Diretor: Cameron Crowe
Atores: Matt Damon, Scarlett Johansson, Thomas Haden Church

Embora requisito não obrigatório, a versatilidade de um diretor sempre é positiva. Até grandes cineastas falham quando experimentam narrativas que não aquelas que dominam. E podem ser ainda menos eficientes quando trabalham com uma obra adaptada. É necessário gerar uma tensão entre suas características de estilo e o formato original da obra para que nenhuma voz se sobreponha e resulte em uma boa adaptação.

Compramos um Zoológico parece apenas mais um dos diversos filmes familiares do verão americano. O pôster com uma feliz família reunida incita erroneamente uma história leve, divertida e descartável. A divulgação foi tão mal realizada que muitos nem perceberam que esta é a nova produção de Cameron Crowe.

Desenvolvido em sensível equilibro entre o tradicional moralismo de superação e o drama familiar, a história se baseia nas memórias de Benjamin Mee, um pai de família que após perder a esposa segue o impulso de comprar uma casa adjunta a um zoológico do interior.

Motivado em reestabelecer o equilíbrio de sua vida e trazer felicidade aos filhos, Benjamin busca um recomeço explicito para a reconstrução familiar. Ao encontrar um zoológico fechado ao público, com uma equipe dedicada mas com poucos recursos, tem a motivação necessária para sair do luto e dar prosseguimento a sua vida.

Impressiona que, mesmo trabalhando com um elemento não autoral, Crowe demonstra habilidade e não perde seu estilo narrativo nem trai a história de Benjamin. Com sensibilidade estabelece o laço dramático com o público que reconhece a trama como uma história autêntica, sem exageros.

Ainda que sem a necessidade de drama explícito, Matt Damon está ideal no papel de um pai repleto de dor e responsabilidade. Até mesmo Scarlett Johasson, que ultimamente mais utiliza sua beleza como figuração, realiza uma interpretação eficiente e crível no papel de uma mulher normal, sem arroubos nem poses sensuais, responsável pela manutenção do zoológico.

A habilidade de Crowe traz um pouco de novidade as repetidas temáticas familiares e comprova que a espera por sua produções sempre é compensador.


segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge

(The Dark Knight Rises, 2012)
Diretor: Christopher Nolan
Atores: Christian Bale, Gary Oldman, Morgan Freeman, Michael Caine, Anne Hathaway, Joseph Gordon-Levitt, Liam Neeson, Tom Hardy, Cilliam Murphy, Marion Cotillard.

Ainda em exibição nos cinemas, o desfecho derradeiro da trilogia de Chistopher Nolan ressoa nas discussões cinematográficas, seja você um cinéfilo, um fã de quadrinhos ou um espectador ocasional da sétima arte. A potência da produção gerou tanto calor que críticos especializados foram alvos de insultos por críticas negativas.

Se fosse uma história isolada, Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge seria recebido positivamente por todos. Mas é parte de uma das franquias mais bem sucedidas de quadrinhos, com uma das personagens mais queridas e lucrativas da indústria. Além disso, o fardo da terceira parte de uma trilogia é grande. Sempre gerando fanáticos por comparações que imaginam que toda história é composta pela mesma mistura.

O principal estranhamento dessa produção foi o espaçamento temporal. Não só a trama se passa sete anos após os acontecimentos de O Cavaleiro das Trevas como boa parte de sua narrativa percorre certa parcela de tempo. A necessidade de fechar pontas surgidas anteriormente e ainda dar um fim poderoso a trilogia deixou-a com um enredo concentrado. A narrativa acelerada fez com que algumas pessoas se perdessem. Me incluo nessa categoria. Acostumado a narrativa anterior, mais explicativa e dialogada, refleti em diversos momentos se o filme cometera erros de continuidade, diluía personalidades para facilitar o drama ou exagerava na costura de algumas amarras.

Agarrado ao princípio realista que Nolan fundamentou, inicialmente me senti traído com as coincidências extremas de situações apresentadas. Optei por me abster de qualquer comentário sobre o filme, seja crítica, conversas, para compreender qual era meu desconforto. Ao reassistir a produção, atento aos detalhes que me incomodavam, compreendi que tudo estava bem explicado mas, seguindo a obrigação de finalizar a trama em duas horas e meia de projeção, com muitas tramas sobrepostas. E creio que boa parte do público que teceu comentários negativos sobre o filme valeu-se da mesma sensação.

A mudança narrativa era necessária para que Nolan apresentasse o elemento mais épico de sua saga. Mais do que o herói, é a própria Gotham City que se torna personagem central da trama. É a cidade como unidade que é posta em cheque pelo vilão Bane. Trazendo o ponto máximo da escalada criminosa. Primeiro, o herói que surge para, em seguida, produzir vilões que desejam sua queda.

Bane é uma exemplar composição que atrela o exagero dos quadrinhos sem destoar do elemento realista. É a ameaçadora força bruta com um plano destrutivo, o medo dissonante pela voz distorcida e aguda para um monstro. A postura sempre ereta e com classe do vilão é reversa a loucura de Coringa, é pura racionalidade deturpada.

Ao retornar ao manto encapuzado, Bruce Wayne confirma sua potência como força modificadora de uma cidade mas assinala também a fragilidade dos heróis perante o envelhecimento. Embora a força de vontade sobrepuje a decadência do corpo a queda de Batman entristece pelo realismo. Explicita a loucura de um único homem que tenta transformar o mundo.

As cenas que acompanham a queda e o ressurgimento de Batman são dramáticas. O anticlímax da narrativa potencializa o ressurgimento mitificador da lenda. A marginalidade do herói dá espaço a sua legitimidade em um momento que, pela primeira vez, se reconhece quem são os verdadeiros heróis, encapuzados ou não, de Gotham City.

Mantendo-se fiel a trama que criou, Nolan finaliza a trilogia de maneira eficiente, deixando pouco descontentamento para o público – há uma morte na trama que mereceu se tornar a piada do momento pela cena mal executada. A propagação da discussão, agora sem as polêmicas de estreia, são positivas. Dão espaço para teorias especulativas e enriquecem o significado da história.

Não há dúvida de que a personagem retornará em breve aos cinemas, em outras releituras. É provável, porém, que nenhuma seja tão brilhante quanto a versão com realidade injetata, excelente na composição e passível de reflexão.


quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Fogo Contra Fogo

Blu Ray Americano
(clique na imagem para comprar)
(Heat, 1995)
Diretor: Michael Mann
Atores: Al Pacino, Robert De Niro, Val Kilmer, Jon Voight, Tom Sizemore, Diane Venora, Jeremy Piven, Begonya Plaza, Natalie Portman, Ashley Judd

Sobre filmes que tentamos assistir por diversas vezes, mas sempre falhamos: nunca assisti inteiramente Fogo Contra Fogo. Admiro a obra de Michael Mann mas sempre tive problema com essa produção. Ciente de que um filme necessita mais do que atenção mas também vontade para vê-lo e abertura para compreendê-lo, dei mais uma chance para mim e o reassisti em Blu Ray. E o filme é excelente.

Escrito e dirigido por Michael Mann, a trama desenvolve o embate entre duas personagens dispares, tanto em profissão, quanto em caráter. Não há a preocupação em julga-las. Mann desenvolve os dois polos da mesma história sem dar validade para nenhum dos dois. Promove um jogo em que se mostra as personagens lentamente, compreendendo aos poucos suas intenções. .

O direitor roteirista sempre se preocupa com a motivação de suas personagens. Chega a desenvolver antes do roteiro uma história completa de fatos e acontecimentos para ter ciência de como suas personagens chegaram até a situação apresentada em sua história. O trabalho obssessivo tem valor na tela. Suas personagens são carregadas de minúcias que explicitam suas angústias internas. .

Além dos detalhes do roteiro, a maneira com que Mann trabalha a direção é única. Sempre integra suas cenas com o ambiente. Os ângulos não são em close nem em panorâmica. Ficam em um meio termo que mostra tanto as personagens como parte do cenário que vivem. Como se o ambiente também interagisse com naturilidade a cena. Os planos levemente colocados para cima equilibram a luz natural com a fotografia, parecendo um retrato de uma vida real. .

O trabalho cuidadoso em roteiro, em filmagem, concepção de personagens, resultam em uma história densa. Não é um exagero afirmar que Mann faz um western urbano. Colocando dois personagens com objetivos diferentes em uma luta tensa em que, provavelmente, só haverá um vencedor. O duelo é lento mas existe. .

Ampliando a credibilidade da história estão Al Pacino e Robert De Niro, como policial e bandido dentro desse jogo sutil. Em boa forma, os atores demonstram seu talento, promovendo uma cena memorável, localizada em um café, que ambos improvisaram suas falas para gerar a estranheza de dois desconhecidos conversando. .

Diretor experiente, Mann é um obsessivo detalhista. O sutil trabalho de composição carrega dentro de si pequenas história épicas, primorosas narrativas consagradoras impressionantes. .


Um Tira da Pesada

Blu Ray Britânico
(Beverly Hills Cop, 1984)
Diretor: Martin Brest
Atores: Eddie Murphy, Judge Reinhold, John Ashton, Lisa Eilbacher


Somente o distanciamento temporal é capaz de demonstrar a qualidade de uma produção. É necessário um afastamento do presente para observamos com melhores olhos o que era tendência, o que tornou-se inspiração para outros filme e o que caiu no esquecimento.

Desde a criação da sétima arte que fórmulas cinematográficas estão presentes. Muitas vezes, causam desconforto pela repetição maciça, dando-nos a impressão de assistirmos sempre uma mesma história. Mas estas mesmas formulas que fazem com que filmes criem uma estrutura e ultrapassem seu tempo sem perder qualidade.

Filme que levou Eddie Murphy ao estrelado, Um Tira da Pesada revela a fórmula da década de oitenta. Murphy é o desbocado detetive Axel Foyley, um daqueles tiras que acusam primeiro e investigam depois. Malvisto em seu departamento e desolado pela morte de um amigo, decide por conta própria ir a Bervely Hills investigar o crime.

Inserindo um policial em um mundo diferente, a trama sintetiza a comédia de ação. Compõe um híbrido dos dois gêneros, trazendo o melhor de ambos, em uma época em que ainda havia rigidez quanto ao gênero de um filme. Muito do sucesso deve-se a Murphy, muito bom naquilo que faz. O estilo da personagem falastrona que sempre consegue sair das situações mais absurdas por conta das histórias mirabolantes se tornaria principal característica de sua carreira, tornando-se até um estigma que persegue hoje sua carreira em baixa.

O papel foi composto especialmente pensando em Murphy. Porém, antes de sua contratação, diversos atores conheceram a trama. Até mesmo Silvester Stallone que desejava transformar a história em apenas mais uma sobre um homem com uma vingança. A chegada de Murphy proporcionou aos seus roteirista realizar o conceito inicial da obra: um filme de ação com humor.

Como a maioria dos filmes oitentistas, sua história é simples. Sendo importante a maneira como ela é apresentada. Hoje é inconcebível uma trama sem reviravoltas e cenas épicas. A formula contemporânea exige mais agilidade, mais surpresas, do que a década de oitenta que prezando a simplicidade executava melhor seu desenvolvimento.

Um Tira da Pesada justifica a fama de seu protagonista, além de ter transformado em clássico o tema de abertura. Representa bem uma fórmula não mais utilizada no cinema mas que ainda mantém uma originalidade e frescor que muitos filmes contemporâneos não são capazes de produzir.



quinta-feira, 16 de agosto de 2012

O Chacal

(The Jackal, 1997)
Diretor: Michael Caton-Jones
Atores: Bruce Willis, Richard Gere, Sidney Poitier, J.K. Simmons, Jack Black

Situado no final da década de 90, O Chacal é um filme tradicional que se aproveita do contexto mundial, com a queda do muro de Berlim encerrando definitivamente a guerra fria, para produzir uma história de ação.

O enredo é uma releitura de O Dia do Chacal. Embora exista um livro com o mesmo título do autor Frederick Forsyth, a releitura teve como inspiração o primeiro longa metragem e funciona para mostrar que Bruce Willis, mesmo realizando o mesmo papel, tem boa forma quando quer.

Willis é O Chacal, um dos melhores assassinos por encomenda em atividade. Contratado pelos russos em retaliação a uma invasão americana, que ocasionou a morte de um importante chefão do crime. Sua missão é destruir um grande alvo americano para causar caos.

A trama desenvolve os dois lados da mesma história. A investigação americana para descobrir quem é O Chacal, seu plano e as táticas desenvolvidas para conseguir realizar o golpe. Sua personagem é um camaleão de disfarces. Com habilidade para arquitetar o plano de maneira escondida e imperceptível.

Entra em cena Richard Gere, ex traficante de armas, traído uma vez pelo Chacal e a única pessoa acessível capaz de reconhecer o rosto do bandido. Criando assim, um embate tradicional entre duas forças que devem mostrar seu potencial derradeiro para que apenas um vença.

Quinze anos após sua realização, o filme envelheceu bem. Tornou-se além de um bom filme de ação um reflexo de como funcionavam a relação entre países no final da década de 90, mesmo após o contexto da Guerra Fria. Mantendo a paranoia existente nas frontes de espionagem.

Além de espionagem, a trama dá mais força para a ação, o grande embate que público deseja ver. Gere e Willis como atores em potencial para uma briga mais agressiva. Ainda que todos saibam que Willis aperfeiçoou-se a vida toda para papeis no estilo.


segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Confiar


(Trust, 2011)
Diretor:
David Schwimmer
Elenco: Clive Owen, Catherine Keener, Liana Liberato.

Elementos predatórios que cedo ou tarde esbarramos durante a vida nem sempre possuem uma aparência explícita de sua destruição. O avanço tecnológico trouxe consideráveis elementos positivos a sociedade mais permitiu que agressores adentrassem o democrático espaço virtual, a procura do conforto do monitor, para espreitar possíveis vítimas.

Dirigido por David Schiwmmer, o eterno Ross de Friends, Confiar é um temeroso filme necessário para retratar a relação contemporânea entre adolescentes e a rede virtual quando nem mesmo em casa se pode estar seguro.

A discussão do prejuízo causado pela internet existe desde sua criação. Evidente também que não só jovens podem encontrar malefícios usando-a, porém, a maior vulnerabilidade dos jovens permite maior abertura para conhecer um estranho pelo simples fato de confiar, elemento apontado pelo título.

A jovem Annie é uma adolescente tradicional e insegura que, como uma quantidade extrema de pessoas pelo mundo, utiliza a rede para navegar e conhecer novas pessoas. É nesse meio que ela se apaixona por um garoto tido como perfeito. História que se transforma ao contrário.

Sem estabelecer nenhum julgamento acusado, a produção é bem equilibrada e causa a tensão necessária para reconhecimento sem promover erotismo. Mais do que apresentar um simples caso grotesco, o enredo se concentra ao lado da vítima. Sendo ela o ponto chave, não a família, nem a crítica moral. Elementos que estão envolvidos na trama mas não são o ponto central.

Assim, a insegurança e amabilidade da jovem atravessa todos os pontos vulneráveis de uma adolescente. A negação do acontecimento, a raiva pela situação e a contemplação da realidade. Liana Liberato é capaz de segurar a dualidade da personagem, mesmo que a trama não explore bem o potencial dramático de seu pai, o sempre excelente Clive Owen, que representa a impotência perante situações maiores do que a própria família.

Ainda que podendo pesar mais na direção por conta do tema, Schiwmmer conduz o filme de maneira sensível. Criando um balanço eficiente entre a leveza técnica com o peso do conteúdo. O desenlace dá um tom amargo ao público que constata que mesmo invisível predadores estão sempre presentes, mesmo que a espreita.


quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Thor

Blu Ray Americano
(Thor, 2011)
Diretor: Kenneth Branagh
Atores: Chris Hemsworth, Natalie Portman, Anthony Hopkins, Tom Hiddleston, Stellan Skarsgard 

O lançamento de Thor teve como objetivo tanto apresentar mais um grande herói do panteão da Marvel como ser a primeira conexão explícita de um universo uno que resultaria em Os Vingadores, estreado neste ano.

O filme acompanha a jornada do deus do trovão em dois momentos: em sua terra natal, Asgard, com sua origem; e na Terra tentando reconquistar seu posto de deus, após ser destronado pelo pai.

Durante a produção, o anuncio de  Kenneth Branagh  como diretor parecia eficiente. Produtores justificaram o conhecimento de obras clássicas pelo diretor como uma motivação a mais para que ele trabalhasse adequadamente com o herói. Embora demonstre estilo, Branagh parece não conseguir um equilíbrio entre os dois universos apresentados. Falta credibilidade para a cidade mágica de Asgard. Mais passa a impressão de um cenário grandioso, com humanos utilizando capacetes reluzentes do que uma cidade onde habitam deus.

Se o cenário e a fotografia falham em estética, esta tem boa representação em Chris Hemsworth, responsável pela maior onda de suspiros femininos no ano passado. O porte do ator representa bem a figura de um deus e se encaixa com as cenas de ação.

Em contraponto a sua beleza, Natalie Portman foi selecionada como a mocinha e par romântico do filme. Sua personagem, além de mal aproveitada, não adiciona nada a história. Fazendo de Portman, que no mesmo ano fez o excelente Cisne Negro, apenas um bibelô em cena para satisfazer o público masculino.

A intriga com maior potência na trama, a rivalidade entre Thor e o meio irmão Loki, é apresentada sem dramaticidade necessária. A interpretação de Tom Hiddleston não compremete, mas não representa com eficiência a ameaça do vilão. Muito provavelmente porque o roteiro não lhe permitiu maior profundidade. Como dar credibilidade a um vilão que não parece ameaçador nem mesmo dentro da história.

A intenção da Marvel em produzir um universo único em sua obra cinematográfica é positivo. Mas deixa explícita a impressão de que para justificar o todo não importa que as partes dessa unidade sejam medianas. A força das personagens continua alta, suas histórias ainda não.


quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Circulo do Medo

Blu Ray Britânico
(Cape Fear, 1962)
Diretor: J. Lee Thompson
Atores: Gregory Peck, Robert Mitchum

Mais acostumado com a narrativa cinematográfica contemporânea, demoro mais tempo para contemplar antigas produções e ter uma opinião a respeito. Hoje somos inundados, até mesmo pela televisão, pela linguagem rápida e agressiva causando-nos estranhamento ao depararmos com uma narrativa mais lenta e centrada.

Não acho errado afirmar ser necessário um preparo para assistir uma antiga produção. Filmes também tem seus momentos. Tratam da visão de um artista, passível de interpretação. É necessário sintonia do expectador para contemplá-la. Diversos filmes vi sem a sintonia correta, classificando-os como ruins, para depois revê-los e me surpreender com a qualidade. Algumas produções necessitam mais de receptividade do que outras.

Produzido em 1951, Circulo do Medo é um clássico filme de suspense que reúne Gregory Peck e Robert Mitchum em uma trama de rancor e vingança. Pack é Sam Bowden, um conhecido advogado da cidade que durante sua carreira ajudou na prisão de Max Cady, um agressor de mulheres. Recém saído da prisão, Cady volta a cidade e começa a perseguir o advogado.

A tensão entre as personagens é estabelecida de maneira lenta. Primeiro em embate cordial para crescer em discussões e ameaças. A composição do vilão, feito por Mitchum é explosiva, nunca apresenta sua verdadeira intensão mesmo que os olhos revelem frieza e a vontade de um vingança irreprimível. Bowden reflete o papel do homem comum. Aquele que agiu de acordo com a lei mas que descobre que nem mesmo ela pode afastar todos os males. Não só produzindo um longa metragem de suspense como realizando um duelo de personalidades antagônicas.

A restauração em Blu Ray é magnífica. Quebra a ideia de que um filme antigo tem imagem ruim e explicita a cuidadosa fotografia preto e branco. Não a toa, escolhida por alguns diretores mesmo quando era possível filmar em cores.

O filme, baseado no livro de John D. MacDonald, gerou também uma regravação de Martin Scorsese, provavelmente, mais conhecida que este original que merece ser descoberto.